REFLEXÃO
O comportamento (omisso?) dos homens de bem
Martin Luther King – numa argumentação de circulação ininterrupta mundo a fora – estabeleceu que a questão maior, o problema de maiores dimensões, não era a maldade dos maus, mas “o silêncio dos bons”. Se debulharmos direitinho o enunciado, teremos algumas indagações a fazer.
A que tipo de silêncio dos bons se referia Luther King? Retirada estratégica para uma volta posterior em melhores condições de combate? Recuo temporário para ganhar tempo no intuito de angariar mais adeptos para a luta? Recolhimento interior no sentido de obter mais força mental e espiritual e mais argumentos para o embate?
Uma “entrega de pontos” diante da impossibilidade da vitória? Um “jogar de toalha” pela conclusão da inutilidade da defesa de seus princípios? Ou um covarde gesto de omissão, de medo, ao concluir ter à sua frente um contexto adverso, além de sua compreensão, além de suas forças?
A realidade, é que a omissão (ou covardia) dos homens de bem diante dos desafios da vida é um fato preocupante. Conseqüências? Ora, como se aprende, pela Física, que nenhum espaço permanece vazio, na ausência dos homens de bem os canalhas tomam assento, ocupam posições e os desastres acontecem para prejuizo de todos.
Daí que, ausentes do combate – e sem participação efetiva na tomada de decisões – os homens de bem desandam a reclamar, murmurar e a se lamuriar intramuros pelo que vêem pela frente. Reclamam de tudo. Da corrução que campeia em todos os cantos; da violência que assola o país de fora a fora; das filas de bancos e repartições públicas; da péssima qualidade dos serviços prestados por órgãos estatais; dos juros cobrados pelo sistema bancário; do baixo lastro moral de governantes e parlamentares; dos Tiriticas, rinocerontes e macacos eleitos; da segurança...
De tudo, enfim. Porém, na hora de contribuir, de colaborar, de correr riscos, de participar de debates envolvendo problemas que afetam multidões, cidades, países, os homens de bem se omitem, somem e – o que é pior – vão cuidar de seus próprios interesses.
Com tal comportamento, embora capacitados para a prática do bem, estariam os homens de bem se transformando, a rigor, em homens maus? De outro modo, a que conclusão podemos chegar quando vemos homens de robustos princípios morais e reconhecida capacidade intelectual e profissional torcendo para serem alcançados pela aposentadoria para, com isso, se esgueirarem pelos desvãos do ócio e do anonimato?
Ah, os homens de bem! Lembro-me, agora, dos filmes da minha adolescência. De como tal fenômeno era muito bem relatado em obras que marcaram época. A luta do mocinho contra os bandidos – e a omissão dos homens de bem.
Víamos isso mais nos westerns dos velhos tempos – normalmente estrelados por John Wayne, Alan Ladd, Tom Mix, Randolf Scott: o mocinho sempre sozinho quando decidia enfrentar os facínoras que dominavam a cidade; das desculpas que o intelecto dos homens de bem jogava na cara dos defensores da Lei nos dramáticos momentos da luta contra os bandidos; de como, findo os combates – na maioria das vezes vencidos pela valentia do mocinho – os homens de bem surgiam para se beneficiar da nova realidade; Ah, os homens de bem.
Ainda hoje, se chamados a participar de algo que os coloquem fora de sua rotina de homens de bem, se retraem, se excluem. Afinal, o que acontece aos homens de bem que normalmente não se apresentam para a luta, para o risco? Que estranho fenômeno os acomete? Difícil resposta, cara pálida. Veja que sina a do mocinho... Ah, os homens de bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
obrigado pela sua participação