REFLEXÃO
O silêncio que agride.
Há um numeroso contingente de pessoas em Natal que vive no mundo do silêncio. Um silêncio que dói, que machuca, que apequena. Rejeitadas, na maioria das vezes, até pelas próprias famílias, elas se vêm diante da vida com pouquíssimas perspectivas de realização. Aparentemente são normais, transitam pelas ruas e avenidas da cidade sem nada de especial que as diferencie das demais pessoas.
Entretanto, a distância que as separa das conquistas elementares da vida se constitui num tremendo desafio para si próprias e seus familiares. Tudo isso por falta de assistência, de atenção, de carinho dos poderes públicos e da engrenagem social. Vítimas, enfim, do descaso, da indiferença gritante que a maioria destina às minorias que perambulam sem rumo pelas circunstâncias da vida.
Nesse sentimento de indiferença um grande equívoco se estabelece ao se imaginar que, por deixar as minorias sem solução no encaminhamento de suas demandas, isso não vai acarretar aos demais nenhum problema. Os altos índices atuais de violência não nos deixam mentir. Mas falávamos de silêncio.
De pessoas que tateiam pela vida em procura de um destino melhor. Números do IBGE apontam 1,3% da população brasileira constituída de surdos-mudos. Em Natal algo em torno de dez mil pessoas. Parcela, portanto, bastante expressiva da população, desamparada diante dessa realidade cruel de não ouvir e, em conseqüência, não falar. Para elas o que o poder público tem oferecido? Que estrutura existe para encaminhá-las na solução de seus problemas? Questões como educação, emprego, integração, capacitação profissional, desenvolvimento da auto-estima estão atualmente, para elas sem resposta.
E essa visão não agride somente a realidade local. Ela é extensiva também aos planos estadual e nacional, quadro pelo qual o segmento dos surdos-mudos não é contemplado pelo poder público, em nenhuma instância, com uma política, uma diretriz que os faça sonhar com dias melhores. É necessário, portanto, olharmos os surdos-mudos com outra perspectiva, enxergá-los como detentores de grande potencial.
Nesse contingente se escondem – pela inexistência de uma mão que as ajude – pessoas inteligentes, operosas, trabalhadoras, que poderiam, tendo acesso a uma chance de aprendizado e realização, contribuir para a circulação de riquezas e a melhoria da qualidade de vida em geral. É sonhar demais? Não. Tanto que temos conhecimento de projetos bem interessantes voltados para a melhoria da qualidade de vida dos surdos-mudos.
De um amigo de Mato Grosso recebemos, como contribuição à essa magnífica causa, o projeto “Saindo do Silêncio”. Tal projeto enseja a criação do “Centro de Atendimento e Convivência de Pessoas Portadoras de Deficiência Auditiva e da Fala”, uma forte estrutura destinada ao encaminhamento médico, psiquiátrico, didático, odontológico e social dos surdos-mudos, iniciativa capaz de dotá-los das condições necessárias ao enfrentamento das dificuldades da vida.
Com a execução desse projeto tornaríamos Natal um ponto de referência no contexto nacional, um centro de resgate de vidas, lugar onde a falta de atendimento e esperança daria vez ao surgimento de uma nova realidade. Onde o grito de socorro dos surdos-mudos seria ouvido em toda a sua plenitude. Proposta, portanto, capaz de fazer brotar um contexto totalmente novo em relação ao tema. E fazer você sonhar com dias melhores. Nada mal, não é? Vamos sonhar?
Por Públio José, jornalista.
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