RELIGIÃO
Dom Jaime faz alerta: “É preciso dar um basta a essa realidade de penúria”
O arcebispo metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira, afirmou esta manhã que a população está cansada de tantas promessas e que é preciso dar um basta à realidade de penúria, desgaste e impotência. “A população se cansa de passar décadas e sua rua não ter uma melhoria, ali não chegou a pavimentação, o saneamento básico não chegou, o hospital não está funcionando, o posto de saúde não tem medicação.
É preciso que nós possamos dar um basta a essa realidade de penúria, de desgaste, de impotência. Muitas vezes parece que nós não podemos fazer nada diante de assuntos e necessidades tão básicas”, declarou a maior autoridade católica do Rio Grande do Norte, em entrevista ao “Jornal da Cidade”, da FM 94, nesta terça-feira.
“Como Igreja, nós esperamos que o povo de Deus tenha e mereça a atenção fundamental e mínima que para eles é questão de vida ou de morte, sobretudo no sistema de saúde, que não só aqui no Rio Grande do Norte, mas em todo o Brasil vive uma falência geral da saúde pública”, continuou o arcebispo, ao falar do papel da Igreja na política. “Almejamos que os governantes elejam essas atenções que são básicas para a vida das pessoas”, declarou.
DESFILIAÇÃO DE PÁROCOS
Dom Jaime afirmou que a orientação da Igreja é que os padres não devem se envolver com a política partidária. Ele se referiu à orientação dada recentemente pela Igreja no sentido de proibir a candidatura de padres no Rio Grande do Norte. “Lembro-me do tempo em que a Igreja tinha seus representantes na vida pública, mas a realidade de hoje se apresenta de um modo diferente. Foi João Paulo II que tomou essa decisão de afastar os padres da política partidária, por ver que seria algo próprio do leigo e não dos padres”, lembrou.
Indagado se esta decisão não restringiria uma participação mais ampla dos líderes da Igreja na transformação da sociedade, Dom Jaime afirmou que isso foi antigamente e que os tempos são outros, de dedicação exclusiva dos clérigos aos postulados da Igreja Católica. “O padre, numa paróquia do interior, dentro da sua liderança normal, tinha que atender às necessidades fundamentais da comunidade, como construir um colégio, um hospital, promover algum meio de comunicação. Era a paróquia que se apresentava como a grande porta que deveria se abrir para as necessidades de uma população”, recordou.
COBRANÇA PÚBLICA
Questionado sobre o posicionamento adotado pelo Monsenhor Edson Medeiros, de Caicó, que há cerca de dez dias, durante a Festa de Santana, cobrou publicamente da governadora Rosalba Ciarlini que olhasse mais para a saúde, evitando que o RN apareça na mídia nacional de maneira negativa, com caos em suas unidades públicas, o arcebispo afirmou que o que o padre falou realmente procede, mas que a oportunidade – o encerramento da Festa da Padroeira – talvez não tenha sido a mais adequada.
"Eu vejo que talvez a oportunidade que não foi adequada. O padre exerce uma liderança que varia muito da visão que as pessoas têm da análise da própria realidade e talvez essa sensibilidade para com a comunidade. Nós temos aqui no Rio Grande do Norte um relacionamento institucional muito louvável e benéfico com os governantes. Não há um clima hostil dentro da Igreja contra o Estado e contra as suas lideranças. Pelo contrário. Nós a orientamos para que possamos cooperar em tudo aquilo que for possível, para o bem comum e para a solução de problemas. O que o padre de Caicó falou realmente procede. É uma realidade bastante desafiadora, mas não podemos exigir que a governadora atual, resolva e supere todas as dificuldades herdadas de tantos anos. A oportunidade não foi tão feliz. Alguém pode dizer que foi muito bom na questão político-partidária para os que são opositores, que vão achar muito bom, porque o padre foi porta-voz de uma realidade. Ele poderia ter pedido a Santana que olhasse para essa realidade", avaliou o arcebispo.
PAPEL DA IGREJA
No tocante ao papel da Igreja em relação às eleições, Dom Jaime afirmou que ao longo do tempo essa missão tem sido de orientação e formação. “Aqui em Natal, a Arquidiocese tem uma tradição muito bonita de educação política, o Serviço de Assistência Rural, sempre, nas eleições, publicava cartilhas orientando as pessoas para votarem bem, sem nenhuma conotação político-partidária, mas dentro de uma isenção ampla e de formação. Nós devemos orientar as pessoas para que vejam a realidade. Já contamos com um avanço muito grande, um aperfeiçoamento democrático que é muito louvável para o nosso país. A lisura do voto da eleição com a urna eletrônica”.
Na visão do arcebispo metropolitano, as pessoas devem escolher seus líderes observando o conteúdo das propostas que cada um apresente. “As pessoas devem ter muita clareza e sensibilidade para escolher seus líderes de acordo com a sua consciência e vendo o que cada um poderá fazer pelo bem comum. Por isso os debates e os momentos de manifestação pública de cada candidato, apresentando os projetos, dando uma visão de experiência no trato com a coisa pública, são importantes, porque as pessoas vão tirando suas conclusões e fazendo uma avaliação visível de cada um. Cada candidato tem o seu conteúdo e são os projetos e planos assumidos que devem pesar no momento da escolha”.
RESPEITO AO POVO
Indagado sobre qual o problema que chama mais atenção em Natal e o que os candidatos poderiam fazer em relação a esse problema, Dom Jaime chamou a atenção para a melhoria de vida em geral da população, que às vezes passa décadas aguardando obras básicas como pavimentação, saneamento e bom funcionamento do posto de saúde. “Nós somos pastores do povo de Deus e pela nossa vocação estamos mais perto da população e, por conseguinte, com a sensibilidade para ver o sofrimento, os desafios da vida do povo. Nos preocupamos e almejamos que os governantes elejam essas atenções que são básicas para a vida das pessoas”.
Na visão de Dom Jaime Vieira Rocha, “a população se cansa de passar décadas e sua rua não ter uma melhoria, ali não chegou a pavimentação, o saneamento básico não chegou, o hospital não está funcionando, o posto de saúde não tem medicação. É preciso que nós possamos dar um basta a essa realidade de penúria, de desgaste, de impotência, muitas vezes parece que nós não podemos fazer nada diante de assuntos e necessidades tão básicas. Como Igreja nós esperamos que o povo de Deus tenha e mereça a atenção fundamental e mínima que para eles é questão de vida ou de morte, sobretudo no sistema de saúde, que não só aqui no Rio Grande do Norte, mas em todo o Brasil vive uma falência geral da saúde pública”.
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