ESPORTE
Há 50 anos, Pelé atropelava o Benfica
O Benfica teve um aproveitamento de 100% em casa tanto no Campeonato
Português quanto na Copa dos Campeões da Europa da temporada 1960/61. Na
campanha seguinte, foi o único time invicto no certame nacional e
ganhou todos os seus jogos no Estádio da Luz na principal competição do
continente, a qual conquistou pela segunda vez consecutiva ao bater o
Real Madrid de Gento, Di Stefano e Puskás.
Aquele triunfo classificou o Benfica para a disputa da Copa
Intercontinental contra o Santos, campeão da Libertadores. O time da
Baixada Santista venceu a partida de ida no Maracanã por 3 a 2, com dois
gols de Pelé e um de Coutinho. Mesmo assim, apesar da vantagem de jogar
pelo empate em Portugal, o Alvinegro continuava sendo o azarão. Afinal,
se a equipe de Fernando Riera vencesse o duelo de volta, teria a
vantagem de jogar o desempate mais uma vez na sua própria fortaleza,
poucos dias depois.
Exatamente 50 anos atrás, em uma quinta-feira, 73 mil torcedores
lotaram o Estádio da Luz esperando que o timaço de Mário Coluna, Simões,
Santana e Eusébio vencesse e forçasse um terceiro jogo. Na Copa dos
Campeões daquela temporada, o Benfica tinha aproveitado muito bem o
fator local. Nas oitavas, empatara fora com o Áustria Viena para depois
golear por 5 a 1 em casa. Nas quartas, havia perdido por 3 a 1 do
Nuremberg, mas conseguira a recuperação ao golear o time alemão por 6 a
0. Na semifinal, batera o Tottenham por 3 a 1 em Lisboa depois de perder
por 2 a 1 em Londres.
O jogo entre Benfica e Santos começou com chances em ambos os lados,
mas foi o time brasileiro que abriu o marcador, com Pelé desviando para
as redes um chute cruzado de Pepe. Logo em seguida, o Rei driblou quatro
adversários e foi deslocado dentro da área, mas o pênalti não foi
marcado. Na sequência, em vez de lamentar a decisão, o camisa 10 do
Santos aplicou uma finta sensacional para superar um marcador, passou
por mais dois e deu uma bomba de perna esquerda no canto, sem chance
para Costa Pereira.
O Peixe já dominava o jogo. Com Calvet e Mauro dando conta de Santana
e Eusébio, Pelé quase fez outro golaço antes do final do primeiro
tempo. O Benfica perdia por dois gols, e só a vitória interessava, mas o
time português tinha a confiança de quem, menos de seis menos antes,
havia marcado três gols no segundo tempo para superar por 5 a 3 o
poderoso Real Madrid na final da Copa dos Campeões.
Só que aquela confiança durou apenas três minutos. Pelé mais uma vez
deixou quatro adversários para trás e chegou à linha de fundo, de onde
recuou a bola para Coutinho só completar para as redes. O Atleta do
Século ainda fez o seu terceiro, e mais uma vez foi uma pintura.
Após
pegar a bola no meio de campo, ele tocou entre as pernas de Eusébio,
combinou força e malícia para superar três jogadores do Benfica e, após
ver o primeiro chute defendido, aproveitou o rebote para completar. Até
mesmo os torcedores da casa aplaudiram o gênio, que ainda nem havia
completado 22 anos.
Pepe, que teve grande atuação em todo o jogo, aproveitou um erro do
goleiro para fazer 5 a 0 aos 32 minutos do segundo tempo. E nem mesmo os
dois gols de honra nos minutos finais, marcados por Eusébio e Santana,
afetaram a euforia santista.
A vitória por 5 a 2 do Santos no Estádio da Luz é considerada por
muitos a maior atuação da história da Copa Intercontinental, precursora
da Copa do Mundo de Clubes. A exibição de Pelé naquela noite foi uma das
mais brilhantes do craque brasileiro na sua longa carreira com a camisa
do Santos.
Quem resumiu o confronto memoravelmente foi o goleiro benfiquista
Costa Pereira. “Cheguei com a esperança de parar um grande homem, mas
fui embora convencido de que havia sido atropelado por alguém que não
havia nascido no mesmo planeta que o resto de nós”, declarou.
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