BRASIL
Polícia Federal apura fraudes em contratos de R$ 11,6 bilhões
A Polícia Federal investiga superfaturamento de obras, corrupção de
servidores e fraudes com recursos públicos relacionados a contratos de
R$ 11,6 bilhões.
Atualmente, há 8.110 investigações sobre desvios de recursos públicos em
andamento (10% do total de inquéritos da PF), concentradas em verbas
geridas principalmente pelos ministérios da Educação, da Saúde, dos
Transportes e de Cidades --ou repassadas pelos órgãos para os Estados e
municípios.
A Folha teve acesso a um relatório da PF que, pela primeira vez, traçou
um raio-x das investigações sobre fraudes a licitação, corrupção ativa e
passiva, crimes contra a administração pública, além de casos de
peculato (desvios por servidores públicos).
A maior parte das investigações está no Nordeste (3.767), no Sudeste
(2.022) e no Norte (1.091). Há ainda 720 no Centro-Oeste e 410, no Sul.
O relatório é fruto da criação, no final de 2011, do SRDP (Serviço de
Repressão a Desvios de Recursos Públicos), com delegacias em 16 Estados e
no Distrito Federal, além de chefia em Brasília.
Como as apurações estão em andamento, não se sabe quanto dos R$ 11,6 bilhões foram efetivamente desviados.
O delegado Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado da PF a
qual a SRDP está subordinada, diz que as pastas com maiores recursos
sob investigação são as que concentram grande orçamento. "Isso não
significa que sejam áreas mais propensas à corrupção, proporcionalmente
falando", diz.
Excetuado o pagamento de pessoal e despesas com assistência social e
desempregados, o gasto de educação, saúde, transportes e cidades
alcançou R$ 130 bilhões em 2011 --o que corresponde a 70% desse tipo de
desembolso nos 38 ministérios.
Atualmente, há 1.633 agentes públicos sob investigação, entre políticos
que ocupam cargos eletivos e servidores públicos. Os delitos mais comuns
são peculato (1.402 inquéritos) e crimes em licitação (1.148
investigações).
O principal alvo das investigações são as verbas enviadas para
prefeituras, com 1.819 inquéritos. Isso ocorre porque a maior parte dos
recursos federais para educação, saúde e cidades são repassados às
administrações municipais para que elas efetuem as compras. Em geral, é
nesse momento em que ocorrem as fraudes.
"Saúde e Educação são áreas onde os recursos são muito pulverizados e o
controle social de como o gasto é feito é insuficiente, pois, muitas
vezes, as pessoas que fazem parte dos conselhos municipais não são
preparadas", afirma o delegado Josélio Azevedo de Sousa, chefe do
Serviço de Repressão à Desvios de Recursos Públicos.
Em muitas cidades, principalmente as pequenas, as prefeituras são alvos
fáceis das quadrilhas. Sem infraestrutura para elaborar licitações e
contratos, acabam deixando a burocracia por conta de empresas
terceirizadas. Segundo a PF, há casos em que a própria empresa que quer
ganhar o contrato faz o edital da concorrência.
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