CURIOSIDADE
É possível transformar água do mar em água potável?
É possível, sim - e isso já ocorre em vários países onde a
água doce de rios, lagos e represas é escassa. Hoje, mais de 100 nações,
principalmente no Oriente Médio e no norte da África, possuem usinas
que retiram da água salgada o cloreto de sódio (o sal de cozinha),
deixando o líquido pronto para beber. A primeira usina de dessalinização
surgiu em 1928, na ilha de Curaçao, no Caribe.
O equipamento pioneiro
simplesmente evaporava a mistura em enormes colunas de destilação para
tornar a água potável. A partir da década de 40, porém, surgiram métodos
mais refinados, possibilitando a instalação de miniusinas em navios que
permanecem muito tempo em alto-mar. Entre as novas técnicas, a mais
bem-sucedida é a chamada osmose reversa, que separa o líquido por meio
de um plástico poroso que barra os sais.
"Na maioria dos processos, cerca de um terço da água do mar vira água
potável, enquanto os dois terços restantes são descartados na forma de
salmoura, um líquido com alta concentração de sais que sobra da
separação", afirma o geólogo Aldo Rebouças, da Universidade de São Paulo
(USP). O descarte desse resíduo é um dos grandes dilemas da
dessalinização. No solo, a salmoura inibe o crescimento das plantas. Se a
mistura cair em correntes de água doce, ela pode matar a vida aquática
sensível ao sal. O ideal é despejar o resto de volta no mar ou em lagoas
de água salobra. O Brasil, mesmo sendo um dos países mais ricos em água
doce, também utiliza processos de dessalinização para purificar a água
de lençóis subterrâneos no Nordeste. A iniciativa é controversa. "Mesmo
onde o lençol freático é mais salino, a qualidade da água dos poços
artesianos costuma melhorar naturalmente no máximo um ano depois da
perfuração", diz Aldo.
Tecnologia contra a sede
Um plástico poroso barra o sal e deixa o líquido pronto para beber
1. A água do mar começa a virar água potável quando o líquido
oceânico é bombeado para os filtros da fase de pré-tratamento. Nessa
etapa, são retiradas as substâncias grosseiras, como grãos de areia que
podem danificar os equipamentos da usina, além de vírus e bactérias
prejudiciais à saúde humana
2. Depois da purificação inicial, a água salgada segue para a etapa
em que o sal será efetivamente retirado da mistura. A técnica mais
moderna para realizar essa tarefa é a chamada osmose reversa. Esse
método baseia-se no uso de membranas plásticas com microporos que barram
a passagem de sal, deixando a água pronta para beber
3. Além da água potável, o processo de dessalinização gera um outro
subproduto, a salmoura, um líquido com altíssima concentração de sais.
Para evitar que esse resíduo contamine o solo ou algum rio de água doce,
a solução é devolvê-lo ao mar ou lançá-lo em lagoas salgadas, onde se
pode criar camarões, tilápias e outros peixes do mar
4. Geralmente, a água recolhida depois da separação já pode ser
bebida e segue para a distribuição. Mas, em alguns casos, o líquido
ainda recebe um tratamento químico para reduzir a acidez. Outro
inconveniente é que a dessalinização não retira da água do mar apenas o
sal, mas também minerais como cálcio, potássio e magnésio, compostos
essenciais para fortalecer os dentes e prevenir cáries, por exemplo
BATALHÃO DA SEPARAÇÃO
Na fase de osmose reversa, a água que vem do mar é dividida por
centenas de cilindros metálicos, cada um com as tais membranas plásticas
que separam o líquido potável do sal. Para facilitar o processo, uma
bomba hidráulica aumenta a pressão da mistura salina, forçando a água do
mar contra as membranas separadoras
EVAPORAÇÃO PIONEIRA
Um método diferente nasceu na década de 20
A destilação, o método mais antigo para deixar a água do mar potável,
baseia-se em um princípio bem simples: dentro de enormes colunas de
destilação, o líquido salgado é aquecido até que a água comece a
evaporar, separando-se do sal.
No topo do recipiente, o vapor é coletado
e, depois, resfriado, transformando-se em água potável. Uma das
vantagens é que o aquecimento praticamente elimina o risco de
contaminação da água por microorganismos. O maior problema é que o gasto
de energia para aquecer as caldeiras é muito maior do que em processos
como a osmose reversa.
POROS PURIFICADORES
Por dentro, cada cilindro é oco, possuindo apenas um cano revestido
pelas membranas na parte central. A água do mar preenche o conteúdo das
estruturas e é lançada contra os microporos da membrana, que só deixa
passar para o cano no centro do cilindro a água sem sal. O líquido
potável é recolhido e segue para a distribuição
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