NATAL
"Há indícios, mas não há provas", afirma advogado de Micarla em Natal
Paulo Lopo teve acesso à peça judicial e disse que existem indícios (Foto: Ricardo Araújo/G1)
O advogado Paulo Lopo Saraiva, que assumiu a defesa de Micarla de Sousa
no processo de afastamento da Prefeitura de Natal, confirmou que na
peça judicial que culminou com a decisão do desembargador Amaury Moura,
"constam indícios" contra sua cliente.
Todos eles, segundo Paulo Lopo,
relacionados ao suposto esquema de corrupção aplicado no âmbito da
Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Operação Assespsia. "Constam
indícios, mas não há provas", asseverou o jurista.
O advogado da prefeita afastada impetrará dois recursos simultâneos
nesta quinta-feira (1º): um no Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Norte; outro, via internet, no Superior Tribunal Federal. "Micarla irá
reassumir a Prefeitura amanhã (1º de novembro) mesmo", assegurou o
advogado, que é amigo íntimo da família do ex-senador Carlos Alberto de
Sousa há mais de 20 anos.
A jornalista Micarla de Sousa foi afastada do cargo de prefeita por ordem da Justiça
nesta quarta-feira (31). A decisão é do desembargador do Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Norte, Amaury Moura Sobrinho, que também
determinou que o presidente da Câmara Municipal, Edivan Martins, dê
posse, "imediatamente e dentro das prerrogativas legais", ao
vice-prefeito Paulinho Freire.
Micarla de Sousa e os secretários
municipais Jean Valério e Bosco Afonso, além do radialista Miguel Weber,
ex-marido de Micarla de Sousa, são acusados de participar de um esquema de corrupção na Secretaria Municipal de Saúde, que culminou com a deflagração da Operação Assepsia.
Rivaldo Fernandes: "Ele está abalada, mas tranquila" (Foto: Ricardo Araújo/G1)
Ao longo de toda a tarde desta quarta a movimentação foi intensa na
residência de Micarla de Sousa, na zona Sul de Natal. Secretários
municipais, amigos e familiares entravam e saíam da casa. Poucos, porém,
falavam.
Rivaldo Fernandes, coordenador da equipe de transição do
governo municipal, confirmou que Micarla tomou conhecimento de seu
afastamento pela imprensa. "Ela está muito abalada, mas tranquila. Micarla recebeu a notícia com tristeza e está analisando com frieza",
confirmou.
Ele acreditava, como presidente de honra do Partido Verde no
RN, que Micarla chegaria ao final do mandato. "Não esperava que, mesmo
com a situação de dificuldade, esperávamos que chegasse até o fim.
Estamos todos impactados", destacou. No final da tarde desta
quarta-feira, o diretório nacional do Partido Verde (PV) anunciou interdição e destituiu todos os membros do diretório da sigla no RN.
Visivelmente nervoso, cabisbaixo e sem querer entrevista com a
imprensa, o secretário municipal de Esportes e Lazer, Jean Valério, saiu
da casa da prefeita por volta das 15h10. "Não vou comentar o processo
pois não tive acesso. Mas eu tô (sic) tranquilo, tô (sic) tranquilo",
enfatizou. Além dos dois secretários, um segurança particular e o
cunhado de Micarla, Guto Barreto, chegaram ao imóvel quase
simultaneamente.
Ao longo da tarde e início da noite passaram pela casa os secretários
João Bastos, da Urbana; Walter Fonseca, da Educação; Carlos Paiva, da
Defesa Social; Bosco Afonso, da Semurb; Selma Menezes, do Planejamento; o
vereador Adenúbio Melo, empresários, além de pastores evangélicos e do
ex-marido de Micarla, o radialista Miguel Weber.
Por volta das 16h, o advogado Paulo Lopo Saraiva saiu do gabinete do
desembargador Amaury Moura Sobrinho, no Tribunal de Justiça. Ele confirmou que irá recorrer da decisão
proferida pelo desembargador. "Há uma inconstitucionalidade flagrante.
Pois a prefeita não foi citada e nem teve o direito à ampla defesa
garantido. Atuarei na linha de defesa da inconstitucionalidade da peça.
Ela não foi citada para se defender", alegou o advogado.
Paulo Lopo destacou que Micarla de Sousa foi punida pela Justiça
Estadual com o afastamento da Prefeitura, o que só poderia ser feito
pela Justiça Eleitoral. "O mandato dela é um bem jurídico conquistado
nas urnas. Eu baterei até à última porta", pontuou. O advogado pensa,
inclusive, em entrar com pedido de reconsideração de junto ao
desembargador Amaury Moura, que proferiu a decisão.
Micarla de Sousa, prefeita afastada pela Justiça (Foto: Ricardo Araújo/G1)
Com a decisão judicial, Micarla perdeu os poderes de prefeita. Ela não
pode assinar nenhum documento relacionado à Prefeitura de Natal,
tampouco ordenar despesas. "Ontem (quarta-feira) ela não tem poderes de
decisão. Mas a partir de hoje (quinta, 1º), ela já vai ter", assegurou
Paulo Lopo.
Ele disse que para um advogado experiente, as decisões judiciais "são
formigas e não elefantes". Na porta da casa da sua cliente, Paulo Lopo
esclareceu que conversou com Micarla e a tranquilizou. "Indício não
condena ninguém", enfatizou.
Para embasar a defesa da prefeita afastada, o advogado informou que irá
utilizar das prerrogativas constantes no Artigo 5º, incisos 54 e 55, da
Constituição Federal. No início da noite, a assessoria de imprensa da
Prefeitura emitiu nota oficial dizendo confiar na Justiça e evocando o nome de Deus.
Leia abaixo o que diz o artigo 5º, incisos 54 e 55, da Constituição Federal Brasileira.
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;
Operação Assepsia
A Operação Assepsia, deflagrada em 27 de junho deste ano, desarticulou um esquema que promoveu contratos do município com organizações sociais para a administração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pajuçara e dos Ambulatórios Médicos Especializados (AMEs) por meio de fraudes nos processos de qualificação e de seleção das entidades.
A Operação Assepsia, deflagrada em 27 de junho deste ano, desarticulou um esquema que promoveu contratos do município com organizações sociais para a administração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Pajuçara e dos Ambulatórios Médicos Especializados (AMEs) por meio de fraudes nos processos de qualificação e de seleção das entidades.
Os contratos com as entidades foram anulados pela Justiça. De acordo
com as investigações, as organizações contratadas inseriram despesas
fictícias nas prestações de contas apresentadas à Secretaria Municipal
de Saúde como uma das formas de desviar recursos públicos.
g1rn
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