REFLEXÃO
Cadê a turma que chutava bumbum de executivos?
Públio José – jornalista
Quando o governo federal adotou o modelo pelo qual os
serviços públicos poderiam ser operados por empresas privadas, o Brasil
respirou aliviado – e esperançoso. Afinal, todos veríamos, sendo encaminhadas
para aposentadoria e para extinção, estatais de estruturas pesadas, arcaicas,
bolorentas e vergadas sob o manto da corrução, do empreguismo, da ineficiência.
De início, a oposição no Congresso – e grande parte da
planta sindical – se posicionaram contra as medidas, taxando-as de “entrega do
patrimônio nacional a grupos empresariais por preço vil”. De fato, algumas
empresas foram negociadas a preço bem abaixo do valor que a facção contrária
apregoava, embora se deva levar em conta que, com o governo de caixa vazio para
destravar os graves gargalos de infraestrutura que o país acumulava há décadas,
talvez o melhor modelo, àquelas alturas, fosse mesmo o que foi adotado.
Sem querer puxar pelo saudosismo, mas apenas para
registro histórico, nos lembremos das cenas de protestos promovidas por largas
parcelas da ala mais radical da esquerda partidária e sindical, durante os
leilões nas bolsas de valores, chegando tais grupos ao exagero de agredir
executivos que se dirigiam aos locais dos leilões.
Em parte, os protestos, tirados os exageros, tinham sua
razão de ser, embora fossem afogados pelo governo com as promessas de que, “em
mãos da iniciativa privada, os serviços públicos passariam por grandes
melhorias, alçando o Brasil ao patamar das nações mais desenvolvidas do mundo
no âmbito da telefonia, da energia elétrica, das estradas, do sistema bancário,
da exploração petrolífera”, etc, etc. Assim, de forma até nostálgica, vimos
sumir do mapa siglas do porte da Telebrás, enquanto outras passaram à
iniciativa privada, mesmo continuando com nomes e
marcas.
Nos primeiros anos de operação do novo modelo o salto foi
espantoso, principalmente no campo das telecomunicações. Os telefones fixos
passaram a funcionar, tiveram o uso universalizado e anexaram ao sistema grande
parte da população desassistida. O celular, antes em mãos da classe A, foi
popularizado e hoje serve a quase cem por cento dos brasileiros. Se no início o
cenário foi azul, hoje a realidade é diferente.
O brasileiro sofre com a qualidade dos serviços de telefonia,
com a falta de qualidade e de cumprimento de metas nas áreas aeroportuária,
hospitalar, educacional, estrutural, sem contar as patuscadas das estatais que
sobreviveram, das quais a grande estrela é o Correio. Rara é a fatura que você
recebe pelo Correio que não esteja com a data de pagamento já vencida. O
brasileiro, de tanto pagar multas por atraso de pagamento, já vê no Correio um
novo imposto – entre tantos.
E na área privada? O serviço também está ruim. Rara é a
ligação feita de um celular que não apresente problemas; rara é a vez da pessoa
na outra linha ouvir em condições audíveis; rara é a chamada ir até o fim;
enfim, rara é a vez que a prestação de um serviço público no Brasil, operado
por quem quer que seja, alcance níveis razoáveis de qualidade.
Sem falar nas constantes faltas de energia; nos apagões
de várias horas; nas desculpas esfarrapadas das autoridades; nos inquéritos que
nunca chegam à conclusão nenhuma (muito menos que beneficiem o consumidor).
Falando nisso, cadê a turma que chutava bumbum de executivos em frente às
bolsas de valores?
À parte a agressão física, está na hora de voltar a
protestar! Afinal, o motivo é justo! Cadê a qualidade prometida? Cadê as metas
prometidas? Cadê as autoridades responsáveis? Alô, alô, turma que chutava
bumbum de executivos? Alôôôôôôôôô!!!
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