SAÚDE
Sexo oral: o alerta do HPV
Há um aumento preocupante dos casos de alguns tipos de câncer da cabeça e
pescoço entre americanos jovens e de meia-idade e especialistas
relacionam o fato à popularização do sexo oral nas últimas décadas.
Isso vem ocorrendo devido à presença do papiloma vírus humano, o HPV,
uma das principais causas destes tipos de câncer, que pode ser
transmitido por meio do sexo oral.
“Esta relação – de que um aumento de atividades sexuais,
principalmente do sexo oral, está relacionado ao aumento de infecções
pelo HPV– parece bastante plausível”, disse Greg Harting, professor de
otorrinolaringologia cirúrgica da Escola de Medicina e Saúde Pública da
Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos.
Segundo William Lydiatt, professor e chefe do departamento de
cirurgia otorrino-oncológica do Centro Médico da Universidade de
Nebraska, a incidência geral de câncer da cabeça e pescoço está
diminuindo, principalmente porque o número de fumante é atualmente menor
(o cigarro e o álcool são os principais fatores de risco).
Ele diz, porém, que a incidência de câncer nas amígdalas e na base da
língua vem aumentando nas últimas décadas. E estes são os tipos com
maior probabilidade de revelar testes positivos para HPV.
“Chegamos ao ponto em que entre 60% e 70% dos casos de câncer de
amígdalas nos Estados Unidos estão relacionados ao HPV”, disse Lydiatt.
Especialistas afirmam que, embora a ligação entre o HPV e estes tipos
de câncer seja incontestável, a associação entre o sexo oral é forte,
porém um pouco mais especulativa.
Um estudo publicado em 2007 no New England Journal of Medicine
constatou que jovens com câncer da cabeça e pescoço HPV-positivos
apresentaram maior probabilidade de ter tipo múltiplos parceiros sexuais
ao longo da vida.
No estudo, o sexo oral com mais de seis parceiros diferentes ao longo
da vida foi relacionado ao risco 3,4 vezes maior de desenvolver um
câncer orofaringeal – que se desenvolve na base da língua, garganta e
amígdalas. Aqueles já tinham realizado sexo oral com mais de 26
parceiros diferentes tiveram seus riscos triplicados.
Os pesquisadores também relataram que a incidência de câncer de
amígdalas e língua vem aumentando a cada ano desde 1973. Eles escreveram
que “a difusão da prática de sexo oral entre os adolescentes pode ser
um fator que contribui para este aumento”.
A conclusão do estudo é que o sexo oral está “fortemente associado”
ao câncer orofaringeal, mas os pesquisadores observaram que a
transmissão por meio do contato “boca a boca”, como no beijo, não
poderia ser eliminada.
Segundo dados de órgãos federais americanos de saúde, em 90% dos casos
de infecção por HPV, o sistema imunológico se livra do vírus
naturalmente em cerca de dois anos. Mas, em alguns casos, determinados
tipos de HPV podem levar ao câncer cervical ou a outros tipos malignos
menos comuns – como o câncer orofaringeral.
Uma pesquisa sueca de 2010, de fato, apontou que o aumento do câncer
orofaringeal em células escamosas em diversos países “é causado por uma
lenta epidemia de cânceres induzidos por infecção através do HPV”.
O HPV costuma permanecer em um local específico, explicou Amesh A.
Adalja, instrutor adjunto da divisão de doenças infecciosas do Centro
Médico da Universidade de Pittsburgh. Em outras palavras, o vírus
costuma permanecer no primeiro local por onde entrou no organismo, seja
na vagina (que em alguns casos pode levar ao câncer cervical), a boca ou
a garganta.
Sendo assim, seria a maior incidência um indicativo de que as gerações recentes estão praticando mais sexo que seus avós?
“O consenso geral é que, como as práticas sexuais foram mudando com o
passar do tempo, há um aumento destes tipos de câncer. Eu não sei por
que hoje se pratica mais sexo oral, mas o conceito do sexo oral parece
ser menos obscuro aos jovens de hoje do que era para seus pais e avós”,
disse Hartig.
“A ideia é que a geração nascida nos anos 60 e início de 70
provavelmente teve mais liberdade nas relações sexuais em geral,
inclusive com o sexo oral”, complementou Bert W. O’Malley Jr, chefe do
departamento de otorrinolaringologia da Universidade da Pensilvânia.
E, pelo menos em termos de sexo oral, a hipótese parece verdadeira
para as gerações anteriores. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças
dos Estados Unidos informa que, em 2002, cerca de 90% dos homens e 88%
das mulheres, entre os 25 e os 44 anos de idade, relataram já ter
realizado sexo oral com um parceiro do sexo oposto. Dados comparativos
de 1992 mostraram que aproximadamente 75% dos homens, entre os 20 e os
39 anos, e 70% das mulheres, entre os 18 e os 59 anos, nunca haviam
realizado sexo oral.
O lado positivo das constatações é que os tipos de câncer da cabeça e
pescoço relacionados ao HPV são muito mais tratáveis do que aqueles
atribuídos ao cigarro e ao álcool, mesmo sendo geralmente diagnosticados
em estágios mais avançados.
“É muito mais fácil tratar o câncer de cabeça e pescoço relacionado
ao HPV. Pode-se usar radiação de intensidade mais baixa”, explicou D.J.
Verret, professor assistente clínico da University of Texas Southwestern
Medical School e cirurgião plástico do Texas.
Aproximadamente 85% dos não fumantes com tumores HPV-positivos
sobrevivem. Tais números caem para 45% ou 50% entre os fumantes
HPV-negativos, disse Lydiatt.
A ocorrência dos cânceres de amígdalas e língua continua
relativamente rara nos Estados Unidos. A outra boa nova – pelo menos
para os mais jovens – é que já existe uma nova vacina para a prevenção
do HPV. Quem já foi infectado não vai se beneficiar da mesma, mas a
vacina certamente pode ajudar quem ainda não foi infectado pelo vírus,
disse Verret.
Lydiatt diz que, enquanto isso, devemos nos conscientizar de que o
cigarro não é o único fator de risco do câncer de cabeça e pescoço. Se
surgir um caroço em seu pescoço, mesmo se você só tenha 20 ou 30 anos de
idade, “preste atenção nisso”, recomenda Lydiatt.
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