MANDATO
Comunidade escolar reivindica escolas bilíngues no RN
Um grupo de
trabalho formado por representantes das secretarias estadual e municipal de
Educação, do SINTE/RN e de entidades como a Associação de Surdos do RN (ASNAT
RN) e a Associação dos Profissionais Intérpretes e Tradutores da Língua
Brasileira de Sinais do RN (APIL RN) vai discutir como transformar a lei em
prática e garantir, de fato, a acessibilidade e oportunidades iguais de ensino
e estudo aos surdos.
Este
fórum de trabalho irá dialogar com as entidades e os governos do município e
Estado, em busca de soluções e prazos. Esta foi uma das deliberações da
audiência pública promovida nesta quinta-feira (13) pelo deputado Fernando
Mineiro (PT), que teve como tema “Por uma escola de qualidade para surdos:
escola bilíngüe”. A audiência, inclusive, foi toda traduzida na linguagem de
sinais para os participantes e também para os telespectadores da TV Assembleia,
que transmitiu o evento ao vivo (Canais 9 e 50)
Para a maioria dos especialistas presentes, a
segregação só agrava as dificuldades na formação desses alunos e dessa forma
algumas reformas no sistema de ensino devem ser feitas com urgência para
permitir à acessibilidade ao ensino. Eles sugerem que o Estado e o município
devem, entre outras ações, investir na contratação de professores bilíngües.
Depoimentos
Alunos adolescentes e adultos e mães de
portadores de deficiência auditiva relataram as dificuldades por que passam no
seu dia-a-dia. O garoto João Alves disse: “Estou aprendendo a escrever. Pela
manhã aprendo a linguagem de sinais e à tarde faço minhas tarefas. Penso que
precisamos da escola bilíngüe. A jovem Paula Kaline, que também é surda, disse:
“A inclusão é muito difícil para o aluno, porque não tem a presença do
intérprete. Precisamos de escola bilíngüe e já a temos garantida por lei”.
Vanessa de Fátima, mãe de um adolescente, deu
seu depoimento na linguagem de sinais, que precisou aprender para colaborar na
formação do filho: “Meu filho precisa de uma formação bilíngüe pra se
desenvolver. Preciso da união e parceria entre o estado e a prefeitura. A
inclusão não tem dado certo, mas o bilingüismo é o caminho que nós queremos”,
disse.
Débora Vasconcelos, que dirige o Instituto
Cearense de Educação dos Surdos, foi convidada para mostrar o êxito do trabalho
da instituição. Ela inclusive, é a primeira diretora surda do Nordeste e o
instituto também tem funcionários surdos. Ela relatou a experiência bem
sucedida em Fortaleza: 18 alunos obtiveram bons resultados no Enem. “Temos
orgulho do nosso trabalho e das ações que realizamos com as crianças”, disse.
O presidente da ASNAT, José Arnor de Lima
Júnior, fez um relato das lutas da entidade para garantir a acessibilidade ao
ensino. “A educação de surdos tem tido problemas. O RN também tem que se
mobilizar pois a nível nacional já vimos muitos movimentos de luta em prol dos
surdos”, disse.
Segundo dados parciais da secretaria estadual de
Educação, no RN existem cerca de mil alunos surdos. O professor Filipe, que há
mais de dez anos se dedica à questão, disse que no RN a educação desses jovens
e crianças é vergonhosa e revela uma história de exclusão.
“O município criou a lei em 2002, mas não criou
o cargo de professor. Não é a toa que a comunidade está revoltada, porque não
vê um crescimento significativo quanto a isso”. O professor citou a Declaração
de Salamanca, de 1994, que entre outros trata da educação bilíngue e a Lei de
Libra, criada em 2002. “As pessoas parece que não percebem ou não querem
enxergar por ignorância ou má fé. O fato é que a língua de sinais tem que estar
nas duas escolas, seja através de um professor bilíngüe, seja como intérprete
de sinais”, disse.
Lei no RN
O deputado Fernando Mineiro é autor do projeto
de lei sancionado em 2009 oficializando a linguagem de sinais no Rio
Grande do Norte. "Quando criei este projeto pensei nas providências que o
Estado tomaria para a inclusão social no âmbito dos órgãos públicos,
principalmente em áreas como educação e saúde, para beneficiar a comunidade
surda do Rio Grande do Norte", disse Mineiro
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