A exposição de
crianças à poluição atmosférica está relacionada com a diminuição da capacidade
pulmonar.
Embora essa
observação seja relativamente antiga, algumas incertezas ainda persistiam. Na
Califórnia, já havia sido demonstrado que crianças entre 10 e 18 anos de vida
tinham a função pulmonar comprometida de acordo com o grau de exposição à
poluição atmosférica. Faltava definir, porém, em que momento da vida da criança
a exposição à poluição causava mais danos e, também, se esse efeito era mais
acentuado em crianças com história de doenças respiratórias, como asma e
alergias.
Para responder a
essas dúvidas, pesquisadores suecos acompanharam mais de 1.900 crianças desde o
nascimento, estabelecendo medidas da função pulmonar aos oito anos de idade.
Além dessa medida, foi verificado o grau de atividade e a presença de sintomas
respiratórios de asma e alergias com um e com oito anos de idade. Para
calcular a poluição, os autores verificaram a exposição à quantidade de material
sólido em suspensão no ar. Quando esse material tem menos de dez micra de
diâmetro, o chamado PM10, a medida em miligramas por metro cúbico de ar é um
parâmetro usado internacionalmente e está relacionado à poluição emitida por
veículos de transporte motorizados (carros e ônibus, entre outros).
Sabendo os níveis
de PM10 do endereço, da escola e dos outros locais em que a criança ficava, foi
possível identificar grupos com níveis diferentes de exposição. Uma diferença
de sete microgramas de PM10 aumenta quatro vezes a probabilidade de uma criança
ter obstrução das vias aéreas.
O primeiro ano de
vida é o período mais determinante desse risco. Crianças expostas a mais
poluição durante o primeiro ano tinham 50 ml a menos de capacidade expiratória
(cerca de 5% da média verificada). Quando apresentavam também antecedentes de
alergia respiratória, a perda chegou a 140 ml (mais de 10% de perda). A
capacidade expiratória é menor, porque ocorre uma diminuição do fluxo de ar
pelos brônquios. Isso acontece porque a poluição causa inflamação nas vias
respiratórias. Como consequência, as crianças têm dificuldade em esvaziar o
pulmão, o que causa tosse e redução da capacidade de exercício.
Os resultados
confirmam que a poluição piora a função pulmonar de crianças. Quanto mais
precoce a exposição, pior, principalmente no primeiro ano de vida. Sabendo-se
que a poluição em São Paulo variou entre 30 e 50 mcg/m3 em 20122,
quatro a sete vezes o índice verificado, o risco de obstrução a que estão
expostas nossas crianças é evidente.
Dr Drauzio Varella
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