A Petrobras completa hoje (3) 60 anos acumulando
conquistas e desafios. Líder mundial em tecnologia para exploração de petróleo
em águas profundas, a empresa tem agora o desafio de estabelecer parcerias para
a retirada de óleo em águas ultraprofundas na camada pré-sal.
Matéria-prima básica para vários segmentos da indústria,
o petróleo foi a ferramenta usada pelo ex-presidente da República Getúlio
Vargas para industrializar o Brasil na década de 50. “Ele já tinha feito o
primeiro ensaio no primeiro governo (1930 -1945) e, após a 2ª Guerra Mundial, a
indústria se tornou motivação de qualquer governo, principalmente dos países
não desenvolvidos. E desenvolvimento é sinônimo de industrialização”, analisou,
em entrevista à Agência Brasil, o historiador
Bernardo Kocher, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Vargas era, segundo Kocher, um desenvolvimentista. Já
havia implantado no país a indústria siderúrgica – Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) - e entendeu que o petróleo enquadrava-se nesse processo.
“A forma como ele entendia isso, que se disseminou na época, era por meio da
participação estatal”, lembrou. A Petrobras é produto dessa política de Estado
em favor da industrialização, que alcançou todo o mundo, disse o historiador da
UFF. “O petróleo tem os dois veios: os países desenvolvidos, com empresas
privadas; e os não desenvolvidos, com empresas estatais”.
No caso do Brasil, Getúlio Vargas não se limitou a ter
uma empresa que se encarregasse de processar e comercializar o petróleo. “Ele
queria prospectar, queria pesquisar. Porque havia um forte óbice à ideia de que
o Brasil produzisse petróleo em seu subsolo e no mar. Os geólogos
internacionais não corroboravam essa posição”. Mas Vargas não se deu por
satisfeito e transformou a Petrobras também em uma empresa de pesquisa e
prospecção de petróleo no território nacional.
O historiador Américo Freire, do Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), da Fundação Getulio
Vargas (FGV), destacou que a criação da Petrobras ocorreu dentro de uma nova
conjuntura política no país e no mundo, em que a temática nacional ganhava uma
expressão decisiva nos anos 50. “Era um momento de luta por emancipação
política na Ásia, na África”. Entre elas, sobressaiu-se a Revolução Chinesa, em
1949, destacou.
“Era um momento em que a questão nacional ganha uma
expressão decisiva na esteira da 2ª Guerra Mundial. O ex-ditador Getúlio Vargas
volta e se transforma agora em um líder popular, com um discurso para cada
público, mas voltado principalmente para os trabalhadores”. O historiador do
Cpdoc ressaltou que Vargas costumava dizer: “O povo vai subir comigo as
escadarias do [Palácio do] Catete”, referindo-se à sede do governo federal,
instalada à época no Rio de Janeiro e hoje transformada no Museu da República.
Inicialmente, Vargas adotou uma postura cautelosa, diante
das pressões internas e externas contrárias a um projeto monopolista mas, em
meio às discussões sobre a criação da estatal, a campanha O Petróleo É Nosso,
que envolve diferentes setores da sociedade com os quais ele passa a dialogar,
serve de impulso para a sua tomada de decisão.
No dia 3 de outubro de 1953, o então presidente assinou a
Lei 2.004 que criou a Petrobras, como resultado da campanha. O movimento
popular foi iniciado em 1946 e defendia o petróleo nacional. "É, portanto,
com satisfação e orgulho patriótico que hoje sancionei o texto de lei aprovada
pelo Poder Legislativo, que constitui novo marco da nossa independência
econômica", disse Vargas, em discurso na sanção da lei.
À nova empresa caberia executar as atividades do setor
petrolífero no Brasil. Estava instituído, dessa forma, o monopólio estatal de
exploração de petróleo. A Petrobras teve um papel decisivo na história do país.
“A gente não pode imaginar o Brasil sem uma empresa como essa”, sublinhou
Freire. Ele enfatizou que Vargas já tinha um projeto político e estratégico
para o país e precisava implementar um símbolo do projeto.
Somente em 1995, no governo Fernando Henrique Cardoso, foram
dados os primeiros passos que levaram à quebra do monopólio estatal no setor de
petróleo. Em maio daquele ano, a Comissão Especial do Petróleo da Câmara
Federal aprovou o texto para flexibilizar o monopólio. A emenda constitucional
só foi aprovada, em segundo turno, no dia 20 de junho.
Dois anos depois, em agosto de 1997, a Lei 9.478 foi
promulgada, após a garantia dada pelo presidente do Senado, José Sarney, de que
a Petrobras não seria privatizada. Essa lei reafirmava o monopólio da União
sobre os depósitos de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos,
mas abria o mercado para outras empresas competirem com a Petrobras, de acordo
com informações do Cpdoc.
Em 2000, o governo tentou alterar o nome da empresa para
Petrobrax. O argumento utilizado foi que o novo nome se adequaria melhor ao
crescimento da estatal no mercado internacional. A reação política, no entanto,
foi forte o suficiente para que Fernando Henrique abandonasse a proposta.
Para Américo Freire, mesmo após a quebra do monopólio, a
Petrobras manteve a competitividade nos cenários interno e externo. “É uma das
principais empresas do mundo e a principal empresa brasileira. E isso nós
devemos àquele momento, àquela conjuntura e àquele personagem que foi Getúlio
Vargas”.
defato.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
obrigado pela sua participação