As
Nações Unidas (ONU) aproveitaram o Dia Mundial da Alimentação, comemorado nesta
quarta-feira, para alertar o mundo em relação ao problema do desperdício de
alimentos enquanto 842 milhões de pessoas passam fome, ressaltando, além disso,
a importância de uma alimentação saudável em um contexto de aumento da
obesidade.
Cerca
de um terço dos alimentos produzidos no planeta atualmente vai direto para o
lixo, o que equivale a 1,3 bilhão de toneladas por ano, segundo a Organização
das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sediada em Roma.
"Com
apenas um quarto disso, poderíamos alimentar 842 milhões de famintos",
explicou Robert van Otterdijk, um especialista em agricultura da FAO.
Mesmo
reduzindo pela metade o desperdício de alimentos, seria necessário elevar em
32% a produção mundial de comida para alimentar a população mundial até 2050.
Na situação atual, o aumento da produção de alimentos deve ser de 60% para
atingir esse objetivo.
Mathilde
Iweins, coordenadora de um relatório sobre o custo do desperdício de alimentos,
disse que "a soma das áreas agrícolas usadas para produzir alimentos que
jamais serão consumidos é tão grande quanto o Canadá e a Índia juntos".
Mas,
para a FAO, focar no tipo de alimento a ser consumido é tão importante quanto o
problema do desperdício, já que a desnutrição e as dietas mal balanceadas
impõem altos custos para a sociedade, envolvendo problemas que vão desde as
altas despesas relacionadas aos cuidados com a saúde até a perda de
produtividade.
"Uma
em cada quatro crianças no mundo com menos de cinco anos está abaixo do peso
ideal", informou a FAO em um relatório. Isso significa que 165 milhões de
crianças são tão desnutridas que nunca alcançarão o máximo do seu potencial
físico e cognitivo", disse.
Cerca
de dois bilhões de pessoas no mundo vive com insuficiência de vitaminas e minerais
essenciais para uma boa saúde, enquanto 1,4 bilhão de pessoas estão acima do
peso.
As
crianças com atraso no crescimento podem estar mais suscetíveis ao risco de
desenvolver problemas de obesidade e doenças relacionadas à idade adulta, em um
ciclo preocupante de desnutrição.
Das
que estão acima do peso, "cerca de um terço é de obesos e corre o risco de
adquirir doença cardíaca coronária, diabetes ou outros problemas de
saúde", disse a FAO.
A
agência pondera que, apesar de acabar com a desnutrição em todo o mundo
"ser um grande desafio, o retorno deste investimento seria alto".
"Se a comunidade internacional investisse 1,2 bilhão de dólares por ano
durante cinco anos para reduzir as deficiências de micronutrientes, os
resultados seriam traduzidos em mais saúde, menos mortalidade infantil e
aumento de ganhos futuros", disse. "Isso geraria ganhos anuais no
valor de 15,3 bilhões de dólares", acrescentou.
A
FAO disse estar particularmente esperançosa em relação a projetos que visam a
"elevar o teor de micronutrientes dos alimentos básicos - seja através do
'biofortalecimento' ou do incentivo à utilização de variedades com um teor de
nutrientes mais alto".
Espera-se
que o consumo de alimentos subutilizados e ricos em nutrientes, como certos
insetos, por exemplo, possa se tornar moda.
Com
a luta contra a desnutrição sendo bem sucedida em alguns países e ficando para
trás em outros, a FAO deu exemplos de métodos para ajudar a melhorar os
sistemas alimentares.
No
Vietnã rural, peixes criados em tanques, galinhas usadas como fonte de
fertilização e pequenas plantações em jardim reduziram a má nutrição tanto em
crianças como em mulheres em idade fértil.
Na
Etiópia, um projeto envolvendo cabras elevou o consumo de leite e os
rendimentos da região, ao ensinar às mulheres uma melhor gestão do animal,
inclusive melhorando geneticamente a espécie.
A
FAO insistiu, porém, que projetos específicos de cada país devem ser apoiados
globalmente para conter o desperdício.
"Tirar
o máximo de alimentos a partir de cada gota de água, pedaço de terreno, grão de
fertilizante e minuto de trabalho economiza recursos para o futuro e torna os
sistemas mais sustentáveis", afirma a organização.
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