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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TRIBUNADONORTE - Fila para cirurgia tem 40 crianças

O sistema de saúde infantil no RN se depara com sérias dificuldades. Há dois meses o Rio Grande do Norte está com as cirurgias cardíacas pediátricas paralisadas. Quarenta crianças estão hoje na lista de espera por um procedimento. As cirurgias cardíacas eram realizadas pela rede privada, através do Instituto do Coração de Natal (Incor), que alega ser insuficiente o recurso repassado pelo Ministério da Saúde, e estão sem condições de prestar o atendimento. Seria necessário, pelo menos, o adicional de R$ 80 mil ao repasse mensal para as operações voltarem a normalidade de rotina. 

Longe das discussões, mas vivenciando o trágico contexto, está Cristina Florentino. Não bastasse a prematuridade de seu filho, nascido de sete meses, foi diagnosticada uma cardiopatia no bebê, ele  tem  sopro de coração. A mãe já aguarda há  dois meses e cindo dias a única resolução para o problema, uma cirurgia no coração. O bebê é mantido na UTI Neonatal do Hospital Januário Cicco sob medicamentos para o coração. “É uma situação desesperadora não saber o que esperar”, lamenta Cristina. “Vou entrar no Ministério Público para garantir a vida do meu filho”.

A vida também está abalando, desde cedo, o coração de Jackson Gabriel. Eles nasceu no dia  27 de agosto, em Goianinha, quando já foi diagnosticada sua cardiopatia. Mãe e filho enfrentaram a primeira dificuldade, encontrar um leito de UTI. Foram enviados para a Maternidade Divino Amor em Parnamirim, onde foi mantido por 15 dias na UTI, até que acabaram os medicamentos e precisaram de uma nova transferência. Jackson foi levado ao Hospital Santa Catarina, onde já está há mais 15 dias, e aguarda cirurgia em situação de urgência.

A dificuldade transpassa a complexidade do procedimento cirúrgico, mas se insere na dificuldade financeira para manter o funcionamento.  Para cada paciente infantil submetido à  cirurgia cardíaca, é necessário ter uma vaga de UTI para o acompanhamento especializado. “O repasse tabelado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pata o Incor de uma diária de UTI infantil cardiológica é de R$ 440, porém se gasta em média R$ 3.500 por diária numa UTI”, conta Madson Vidal, presidente da Associação Amigos do Coração da Criança (Amico).


Semanalmente, eram atendidas cerca de 12 crianças com cardiopatia pelo Incor. Desde agosto as marcações foram paralisadas. Apenas cinco crianças foram antedidas no mês por causa da urgência de seus casos. Em setembro, nenhuma criança cardiopata foi cirurgiada no Estado. A Amico já contabiliza 40 crianças na lista de espera por uma cirurgia. “Temos até que rever essa lista, pois alguns podem ter morrido devido ao tempo” conta Vidal. “Hoje, para essas crianças, não tem outra alternativa senão a morte”, sentencia.

A solução encontrada está sendo enviar os pacientes para Hospitais em  outros estados, por meio do programa Tratamento Fora do Domicilio (TFD). No mês anterior, a Amico entrou com uma ação judicial a favor de cinco crianças que necessitavam do atendimento, apenas 3 delas foram beneficiadas, as restantes aguardam vaga nos hospitais.

O problema é nacional, alega o diretor do Incor, Álvaro Barros. A questão se inicia pela baixa quantidade de cirurgiões no Brasil. No RN, somente o cirurgião cardiovascular Marcelo Cascudo é habilitado para a cirurgia. “O recurso estimado à criança é insuficiente, e não temos condições de atender mais. Hoje, nós estamos colocando recursos próprios para sustentar o funcionamento”, coloca Álvaro Barros, que se disponibiliza para dialogar com os gestores a fim de encontrar uma “saída econômico financeira”. Os R$ 80 mil seriam suficientes apenas para a escala dos pediatras intensivistas.

O  secretario de Estado de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, admite não ter recursos suficientes para atender o pedido do Incor. Como solução, há cerca de trinta dias levaram ao Ministério de Saúde uma solicitação de incremento no recurso enviado para financiar as cirurgias, mas não obtiveram respostas ainda. Ele espera solucionar a situação até o final de outubro. “Não queremos voltar a depender do TFD, é um retrocesso para o estado. Estamos tentando com o Ministério viabilizar os recursos”, afirma.

tribunadonorte.com.br

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