O sistema de saúde infantil no RN se depara com sérias
dificuldades. Há dois meses o Rio Grande do Norte está com as cirurgias
cardíacas pediátricas paralisadas. Quarenta crianças estão hoje na lista de
espera por um procedimento. As cirurgias cardíacas eram realizadas pela rede
privada, através do Instituto do Coração de Natal (Incor), que alega ser
insuficiente o recurso repassado pelo Ministério da Saúde, e estão sem
condições de prestar o atendimento. Seria necessário, pelo menos, o adicional
de R$ 80 mil ao repasse mensal para as operações voltarem a normalidade de
rotina.
Longe das discussões, mas vivenciando o trágico contexto, está Cristina
Florentino. Não bastasse a prematuridade de seu filho, nascido de sete meses,
foi diagnosticada uma cardiopatia no bebê, ele tem sopro de
coração. A mãe já aguarda há dois meses e cindo dias a única resolução
para o problema, uma cirurgia no coração. O bebê é mantido na UTI Neonatal do
Hospital Januário Cicco sob medicamentos para o coração. “É uma situação
desesperadora não saber o que esperar”, lamenta Cristina. “Vou entrar no
Ministério Público para garantir a vida do meu filho”.
A vida também está abalando, desde cedo, o coração de
Jackson Gabriel. Eles nasceu no dia 27 de agosto, em Goianinha, quando já
foi diagnosticada sua cardiopatia. Mãe e filho enfrentaram a primeira
dificuldade, encontrar um leito de UTI. Foram enviados para a Maternidade
Divino Amor em Parnamirim, onde foi mantido por 15 dias na UTI, até que
acabaram os medicamentos e precisaram de uma nova transferência. Jackson foi
levado ao Hospital Santa Catarina, onde já está há mais 15 dias, e aguarda
cirurgia em situação de urgência.
A dificuldade transpassa a complexidade do procedimento cirúrgico, mas se
insere na dificuldade financeira para manter o funcionamento. Para cada
paciente infantil submetido à cirurgia cardíaca, é necessário ter uma
vaga de UTI para o acompanhamento especializado. “O repasse tabelado pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) pata o Incor de uma diária de UTI infantil
cardiológica é de R$ 440, porém se gasta em média R$ 3.500 por diária numa
UTI”, conta Madson Vidal, presidente da Associação Amigos do Coração da Criança
(Amico).
Semanalmente, eram atendidas cerca de 12 crianças com
cardiopatia pelo Incor. Desde agosto as marcações foram paralisadas. Apenas
cinco crianças foram antedidas no mês por causa da urgência de seus casos. Em
setembro, nenhuma criança cardiopata foi cirurgiada no Estado. A Amico já
contabiliza 40 crianças na lista de espera por uma cirurgia. “Temos até que
rever essa lista, pois alguns podem ter morrido devido ao tempo” conta Vidal.
“Hoje, para essas crianças, não tem outra alternativa senão a morte”, sentencia.
A solução encontrada está sendo enviar os pacientes para
Hospitais em outros estados, por meio do programa Tratamento Fora do
Domicilio (TFD). No mês anterior, a Amico entrou com uma ação judicial a favor
de cinco crianças que necessitavam do atendimento, apenas 3 delas foram
beneficiadas, as restantes aguardam vaga nos hospitais.
O problema é nacional, alega o diretor do Incor, Álvaro Barros. A questão se
inicia pela baixa quantidade de cirurgiões no Brasil. No RN, somente o
cirurgião cardiovascular Marcelo Cascudo é habilitado para a cirurgia. “O
recurso estimado à criança é insuficiente, e não temos condições de atender
mais. Hoje, nós estamos colocando recursos próprios para sustentar o
funcionamento”, coloca Álvaro Barros, que se disponibiliza para dialogar com os
gestores a fim de encontrar uma “saída econômico financeira”. Os R$ 80 mil
seriam suficientes apenas para a escala dos pediatras intensivistas.
O secretario de Estado de Saúde, Luiz Roberto Fonseca, admite não ter
recursos suficientes para atender o pedido do Incor. Como solução, há cerca de
trinta dias levaram ao Ministério de Saúde uma solicitação de incremento no
recurso enviado para financiar as cirurgias, mas não obtiveram respostas ainda.
Ele espera solucionar a situação até o final de outubro. “Não queremos voltar a
depender do TFD, é um retrocesso para o estado. Estamos tentando com o
Ministério viabilizar os recursos”, afirma.
tribunadonorte.com.br
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