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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

ESPORTE - Jovem casal apostou em ideia inusitada como prova de amor ao filho e ao ABC

Daniel e Rayanne comemoram  o nascimento de João Mathias que ainda na barriga da mãe virou sócio-torcedor do time potiguar ABC. Foto: Wellington Rocha
O amor por um time de futebol pode levar a diversas façanhas. Não perder – por hipótese nenhuma – os jogos do time do coração, fazer longas viagens para prestigiar as partidas fora de casa, não ter mais onde guardar a extensa coleção de camisas, canecas, escudos e outras lembranças, são apenas alguns dos exemplos de torcedores apaixonados por seus clubes do coração.

Mas imagine tornar o próprio filho um sócio-torcedor ainda na barriga da mãe? A ideia inusitada partiu do abcedista Daniel Gouveia, de 30 anos, que ao descobrir que seria pai não hesitou em fazer a adesão do bebê e com direito à foto. Mas para entender a atitude, no mínimo, inusitada, é importante conhecer a história de amor entre Daniel e o ABC.

Desde cedo, Daniel torcia por um time de fora do Estado, prática comum entre os natalenses, já que os clubes da casa não tinham estádio próprio e era normal optar por times maiores. A partir de 12 anos, ele conta que os tios começaram a levá-lo para jogos do ABC, América e Alecrim, mas foi a primeira ida a um jogo do ABC no Machadão que foi o pontapé para o início de uma relação cercada por momentos marcantes. “Senti um arrepio e muita emoção. Foi ali o começo de tudo e agora estava com duas paixões: o São Paulo e o ABC”.

Daniel virou o tipo de torcedor que faz questão de assistir a todos os jogos, como programação favorita. Mas foi em 2006, na inauguração do estádio do ABC, o Maria Lamas Farache, o Frasqueirão, que o amor pelo time foi colocado em prática. “Os torcedores fizeram uma campanha para ajudar na construção do estádio e na época ajudei na compra de cimento e adquiri uns quatro sacos. Para mim, que era estagiário, era muito dinheiro, mas sempre busquei a valorização do time potiguar. Em Recife, por exemplo, é uma tradição torcer pelo time da casa e, infelizmente, o que vemos em Natal é o chamado Complexo de Vira-Lata”, disse.

Ainda segundo o abcedista, também em 2006, ele foi fazer um intercâmbio no Canadá por um período de seis meses. E foi lá, numa terra distante, que mais uma vez ele resolveu dar provas da paixão pelo time do coração. “Bati uma foto tirando a neve e apenas com a camisa do ABC, só que a menos dez graus centígrados. Depois postei na página do clube. No Canadá andava quase todos os dias com a camisa do ABC e as pessoas me paravam, perguntavam sobre o time e eu sentia o maior orgulho”, revelou.

Já de volta a Natal, Daniel decidiu que gostaria de ajudar mais o time do coração e resolveu virar sócio-torcedor, fazendo parte do primeiro programa de sócio lançado pelo clube. “Comecei a mudar a cabeça dos meus amigos e incentivar a ida deles para o estádio, para que eles pudessem ver um time potiguar, não importando qual fosse. A proposta foi surtindo efeito e vi que deveria continuar buscando a valorização dos times da casa”.
Como todo torcedor dedicado, Daniel conta que nunca mediu esforços para acompanhar os jogos do seu time. A sua primeira viagem foi para Campina Grande, onde assistiu ABC x Central de Caruaru, pela série C. “Segui um comboio de ônibus e neste jogo tinha mais gente do ABC que as pessoas e a torcida do local. Outro jogo marcante foi o final da série C, em 2010, no Frasqueirão. O jogo foi no domingo bem cedo e fui virado de uma festa, porque não podia perder”.

AMOR EM PRETO E BRANCO
A relação do casal e a paixão pelo time continuou se intensificando e após alguns anos de namoro Rayanne engravidou de João Mathias, nascido na última semana. Foto: Wellington RochaA história de amor entre o casal Daniel Gouveia e Rayanne Isabelly, hoje, esposa, surgiu em pleno carnaval de Caicó, no interior do Rio Grande do Norte. Após duas semanas de namoro, o abecedista não hesitou em levar a então namorada para um jogo do ABC, no Frasqueirão, e o resultado foi bem melhor do que esperado. Daniel conquistou o seu grande amor e de quebra, o ABC ganhou uma torcedora fiel. “O ABC ganhou o jogo contra o América e ela adorou “.

Rayanne explica que teve receio de ir ao estádio no início, por temer brigas de torcedores, mas a experiência foi muito positiva. “Desde o começo do namoro ia para o estádio e quando Daniel ia sozinho eu achava ruim”, disse.

A relação do casal e a paixão pelo time continuou se intensificando e após alguns anos de namoro Rayanne engravidou de João Mathias, nascido na última semana. De acordo com Daniel, passada a emoção da descoberta da gravidez da esposa, no final do ano passado ele chegou para Rayanne e propôs que também fosse feita a adesão do filho ainda na barriga ao plano de sócio torcedor do ABC. “Ela gostou da ideia e aprovou na hora. Fui fazer a carteira, perguntei se podia fazer sem foto, mas logo veio a ideia de usar a ultrassonografia de sete meses do João. Mandei o print e foi feita a carteira”, vibrou.

O novo integrante do Mais Querido, ainda estava a caminho, mas foi na festa de lançamento do novo programa de sócio torcedor do ABC, realizada no Arena das Dunas, que o assunto se tornou mais evidente. Ao ver a carteirinha de João Mathias, o conselheiro alvinegro Wilson Cardoso e o presidente Rogério Matinho divulgou a novidade entre os torcedores.

A mãe do pequeno alvinegro deseja que seu filho, tal como o esposo, assista aos jogos do Mais Querido e use bastante a carteirinha de sócio, pensada e feita com muito amor. “Meu filho vai ver todos os jogos e vamos passar para ele a importância da valorização do time da terra. Também quero ver o João entrando com os jogadores do ABC em campo. Vai ser um momento de realização de um sonho”, frisou Rayanne.

PROGRAMA DE FAMÍLIA
Além de promover a valorização do futebol do Rio Grande do Norte, outra bandeira de Daniel como torcedor é e estimular as famílias a prestigiarem os jogos dos times locais. O abecedista também acredita que os torcedores podem ajudar seus clubes fazendo parte de programas com o sócio-torcedor. “Quero muito dar o exemplo de valorização do que é da terra e tornar a ida aos estádios em programas de família. Mas acho que os clubes poderiam oferecer mais atrativos para conquistar o público, como campanhas, apresentações musicais. Esta questão de adesão ao sócio-torcedor também é muito importante, independente se o seu time está bem ou mal, porque você vai ajudar o clube, garantindo a renda e ainda economizando com os jogos. O clube fica mais forte, o futebol mais forte e o RN mais forte”.

TORCIDA ORGANIZADA
Responsáveis por um brilho mais nos estádios devido aos famosos gritos de guerra e uniformização dos torcedores, mas também por serem as grandes responsáveis pela potencialização da violência no futebol, Daniel Gouveia explica que nunca teve o interesse em fazer parte de torcidas organizadas. Para o torcedor, não há a necessidade da existência deste tipo de grupo. “É muito mais bonito quando todos se juntam e cantam o hino, de uma maneira natural. Não acho interessante o que acontece porque se cria uma torcida dentro da torcida. Sei que tem a parte boa, inclusive com campanhas de arrecadação de alimentos, mas sempre tem uns cinco ou seis que contaminam o grupo. Prefiro não fazer parte”, declarou.

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