De repente, surge a necessidade de algum objeto ser
fixado na parede. Começa, então, a busca pelo prego e, em conseqüência, pelo
martelo. Encontrados todos os elementos para suprir a necessidade da fixação,
inicia-se a grande operação: bater na cabeça do prego para que o tal objeto
seja fixado. Aí tem início um grande problema. Estará o pregador do prego
devidamente capacitado a executar este trabalho? Não seria melhor convocar
alguém do ramo ou, no mínimo, instruir-se melhor para bater no prego, com o martelo,
para atingir o objetivo desejado? Dilema, grande dilema! Em razão do tempo, da
necessidade urgente da fixação do objeto, da inexistência de alguém mais
capacitado para executar o ofício, decide-se, então, pela grande empreitada. O
prego é instalado no lugar correto, o martelo é devidamente levantado para
desfecho do golpe – que se pretende certeiro. E, e, e, e...
É chegado o momento do encontro fatal entre a falta de capacitação para
execução do trabalho e o corajoso gesto de se fazer o que não se sabe fazer. O
golpe tão milimetricamente planejado erra o alvo e acerta com toda força o dedo
do episódico e infeliz pregador de prego. A dor é lancinante. Na seqüência, a
carne, machucada pela falta de destreza, abre-se pela força do golpe. O sangue,
com seu odor e cor característicos, aparece triunfante, reclamando sua parte no
negócio. Liberto dos limites que lhe são impostos pela pele e pelos tecidos
goteja abundantemente para atestar que chegou ao cenário como conseqüência de
um gesto mal executado. Sangue é vida. E, no episódio, um pouco da vida do
nosso personagem se esvai sem apelação. Mas, interessante, daí não passa. Uma
martelada no dedo não causa morte, embora machuque e até ocasione lágrimas,
incômodos – e muita dor.
Essa experiência, guardadas as devidas particularidades, é semelhante ao atual
momento vivido pelo Brasil. O Brasil pretende fixar na sua parede social,
econômica, jurídica, política, eleitoral, a democracia, a ética, a moralidade,
o respeito entre os poderes constituídos, o combate à corrução, uma melhor
distribuição de renda, mas errou o alvo e acertou o dedo. A pancada não deu
para matar, mas originou uma dor de profundas conseqüências e a perda de algum
sangue – parte do patrimônio físico e moral que deveria preservar. Entre tantas
marteladas brasileiras que erraram o alvo, e acertaram o dedo, destaque todo
especial para a entronização, entre outros, de Renan Calheiros como liderança
política. A dor, a vergonha, a impotência - lágrimas morais derramadas de
difícil cicratização, mesmo que não tenham o condão de levar o país para a UTI
dos propensos à morte.
Os sucessivos escândalos ocorridos no Congresso, a debilidade da matriz
energética, o analfabetismo, a crônica situação de penúria que aflige a
educação, a saúde e a segurança, são marteladas que machucam, que agridem a
alma nacional, e impingem aos mais carentes e necessitados a condição da carne
dilacerada pela conseqüência das políticas públicas mal conduzidas e mal
executadas. Já está na hora do martelo brasileiro passar a ser manejado com
competência e seriedade. Para que os pregos nacionais sejam fixados nos lugares
corretos, trazendo, com isso, a solução de nossos problemas e não a eternização
de carnes dilaceradas e sangue jorrado impunemente. Enquanto isso, a
continuidade de Renan na presidência do Senado é como se à carne machucada
fosse adicionado a cada dia um elemento nocivo para impedir-lhe a cicratização.
Quem vai bater o martelo? Certeiramente, é claro...
por Públio José – jornalista
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