Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) que recentemente avaliou a opinião dos brasileiros e brasileiras sobre
práticas de violência contra a mulher será tema de audiência pública conjunta
das Comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos e Legislação
Participativa (CDH). Marcado para terça-feira (8), o debate terá a presença de
organizações de direitos da mulher e da jornalista Nana Queiroz, de São Paulo,
que lançou pelas redes sociais o movimento “Não mereço ser estuprada”.
O requerimento da audiência foi aprovado pelas comissões
nesta quarta-feira (2), tendo por base requerimento das senadoras Vanessa
Grazziotin (PCdoB-AM) e Ana Rita (PT-ES). Na CAS, todas as senadoras
subscreveram a proposta, que ainda indica entre os convidados um representante
da Secretaria de Políticas para as Mulheres, outro do próprio Ipea e ainda da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Divulgado na semana passada, sob o título
"Tolerância social à violência contra as mulheres", o relatório da
pesquisa causou revolta pelo conteúdo das opiniões consolidadas. Um dos
quesitos mostrou que 58,5% dos entrevistados concordam totalmente (35,3%) ou
parcialmente (23,2%) com a frase "Se as mulheres soubessem como se
comportar, haveria menos estupros". Ainda segundo o levantamento, 37,9%
discordam totalmente (30,3%) ou parcialmente (7,6%) da afirmação e 3,6% se
dizem neutros em relação à questão.
O quesito que vem motivando maiores reações foi o que
buscou traduzir a visão dos entrevistados sobre a questão do estupro. Segundo o
relatório, 65,1% concordam com a frase "Mulheres que usam roupas que
mostram o corpo merecem ser atacadas", de forma integral (42,7%) ou
parcialmente (22,4%). Outros 24% discordam totalmente, 8,4% discordam
parcialmente e 2,5% se declaram neutros.
Logo depois começou uma reação encadeada de críticas,
especialmente por meio das redes sociais, ao machismo vigente na sociedade.
Nana Queiroz lançou no Twitter a hashtag#NãomereçoSerEstrupada,
acompanhada de uma foto em que aparece cobrindo os seios com um cartaz expondo
a mesma frase. Seguido por muitas pessoas, homens e mulheres, o gesto custou à
autora insultos e ameaças à sua integridade, inclusive de estupro, conforme
denunciou.
Solidariedade
Para a senadora Vanessa, o que vem acontecendo é muito
grave e justifica a realização da audiência, inclusive como ato de
solidariedade à jornalista. Ela observou que, ao lado de atos de adesão à
campanha lançada pela jovem, surgiram também manifestações inaceitáveis,
inclusive sob o mote “eu quero ser estuprada.
Ana Rita elogiou o Ipea pela iniciativa da pesquisa, a
seu ver valiosa para que se possa conhecer o que pensa a sociedade sobre
questões tão sensíveis. Ela observou que até então o país não tinha dimensão
das ideias e comportamentos de parcela importante da população.
- A pesquisa jogou luz sobre esta realidade - observou.
O Ipea ouviu 3.810 pessoas em maio e junho do ano passado
em 212 cidades. Do total de entrevistados, 66,5% são mulheres. A assessoria do
Ipea não informou qual o percentual de homens e de mulheres que opinaram
especificamente em relação à questão do comportamento feminino. A pesquisa
também avaliou opiniões sobre violência e homossexualidade.
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