Roger Abdelmassih, o médico condenado a 278 anos de
prisão por estuprar 52 mulheres em seu consultório, é cidadão
norte-rio-grandense. Ele não nasceu no Estado, contudo ganhou o título de
cidadão potiguar em 2006 por obra do então deputado estadual e presidente da
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, Robinson Faria. Apesar do
escândalo ter estourado no ano de 2009, Robinson, presidente da Assembleia até
2010, nunca revogou o título de cidadão norte-rio-grandense concedido ao médico
condenado por estupro. Roger ainda possui a honraria.
Na última semana, o Fantástico e a Revista Veja mostraram
reportagens com transcrições de ligações telefônicas do médico interceptadas
pela Justiça. Roger Abdelmassih admitiu ter feito sexo com suas pacientes e
classificou as vítimidas de “doentes mentéis”. “Elas são doentes mentais”,
disse.
O presidente da Assembleia Legislativa, Robinson Faria,
promulgou no dia 19 de abril de 2006 a “concessão de título honorífico de
cidadão norte-rio-grandense ao senhor Roger Abdelmassih”. Na justificativa da
concessão, o então deputado estadual publicou o seguinte texto: “é com muita
alegria que se oferta ao senhor Roger Abdelmassih esse título de cidadão
norte-rio-grandense”. O título também relembra a trajetória do médico, destacando
a formação como médico e a passagem por diversas universidades e associações.
Ao falar sobre o trabalho do médico, o texto chega a
mencionar que Roger Abdelmassih é “um sacerdote no estudo da reprodução humana”
e que ele “ajuda a fazer real um sonho de muitos”. “Sempre dedicado às questões
da Medicina, cientista de renome, com diversos trabalhos publicados no Brasil e
no exterior, palestrante em vários cursos, simpósios e congressos, um sacerdote
no estudo da reprodução humana. Homem que ajudou e ajuda, com o seu trabalho, a
fazer real um sonho de muitos”, diz o texto da justificativa.
Além disso, Robinson Faria justificou a proposição de
título de cidadão norte-rio-grandense ao médico Roger Abdelmassih afirmando que
ele merecia “em razão de duas qualidades como pessoa humana”. “Agraciado com
diversos títulos e condecorações, médico reconhecido internacionalmente, o Dr.
Roger Adelmassih se faz merecedor de tal honraria, seja em razão de suas
qualidades como pessoa humana, seja pelos relevantes serviços que prestou e,
assim espero, possa ainda prestar ao nosso País e consequentemente ao Estado do
Rio Grande do Norte”, justifica.
O ex-médico Roger Abdelmassih era especialista em
reprodução humana, sendo um dos pioneiros da fertilização in vitro no Brasil. Costumava
tratar artistas e personalidades do mundo político. Em 2009, no entanto,
pipocaram na imprensa denúncias sobre abuso sexual das pacientes. Eram
pacientes bem sucedidades, entre 30 e 40 anos, que alegavam ter sido molestadas
por Abdelmassih quando estavam sendo atendidas e sob efeitos de sedativos.
O ex-médico sempre alegou inocência. Chegou a dizer que
só ‘beijava’ o rosto das pacientes e vinha sendo atacado por um "movimento
de ressentimentos vingativos". Mas, em geral, as mulheres o acusaram de tentar
beijá-las na boca ou acariciá-las quando estavam sozinhas - sem o marido ou a
enfermeira presente. Algumas disseram ter sido molestadas após a sedação. De
acordo com a acusação, parte dos 8 mil bebês concebidos na clínica de
fertilização também não seriam filhos biológicos de quem fez o tratamento.
Roger Abdelmassih foi preso preventivamente no dia 17 de
agosto de 2009 e posteriormente solto em razão de habeas corpus do Supremo
Tribunal Federal. O caso ganhou repercussão e em 2010 o ex-médico foi condenado
a 278 anos de prisão pela juíza Kenarik Boujikian Felippe, da 16ª Vara Criminal
de São Paulo. Ele foi acusado de 56 estupros de pacientes em sua clínica,
localizada em uma área nobre da capital paulista. Apesar da prisão decretada,
Roger Abdelmassih conseguiu fugir do país em 2011.
Após mais de três anos procurado pela polícia brasileira,
Roger Abdelmassih foi preso pela Polícia Federal na tarde de terça-feira, 19 de
agosto de 2014, às 13h25 (horário do Paraguai). A prisão ocorreu nas
proximidades da escola onde deixaria seus filhos e a esposa Larissa. Roger
estava vivendo em Assunção, capital do Paraguai, com a mulher e dois filhos
gêmeos, de três anos, um menino e uma menina, onde usava o nome Ricardo e vivia
uma vida de luxos. No dia 20/08/2014 ele chegou ao Brasil, e foi direto para a
Penitenciaria II de Tremembé.
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