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terça-feira, 4 de novembro de 2014

CULTURA - Biografia de Marinho Chagas conta a vida do maior jogador potiguar da história

Uma marcação implacável em cima de um dos maiores laterais esquerdos que este Brasil já viu culminou na publicação do livro que será lançado na próxima terça-feira. A vida de Francisco das Chagas Marinho é contada por Luan Xavier na biografia "A Bruxa e as duas vidas de Marinho Chagas". Mas o jornalista precisou fazer as vezes de um bom beque para segurar homem que levou o Rio Grande do Norte ao mais alto patamar do esporte nacional e conseguir extrair dele as histórias que ninguém ainda havia noticiado.   

O processo de apuração das informações e produção do livro transcorreu como uma extensa partida de futebol de dois anos. Marinho já não desafiava mais adversários mundo afora com seus desaforados dribles, nem provocava medo nos guarda-redes com o canhão que disparava da perna direita. A vida nesses últimos tempos era outra. Esquecido num apartamento de classe média na zona Leste de Natal, um dos maiores craques da Copa de 1974 levava os dias a sustentar seus vícios e contar nos bares as histórias do passado de pompa como astro internacional do futebol.   

De todo jeito, o mais famoso jogador do futebol potiguar continuava escorregadio e bom de drible, só que agora do lado de fora das quatro linhas dos gramados. Pelo menos foi o que demonstrou quando, por várias vezes, escapou da marcação cerrada de Luan Xavier, quando o jornalista marcava as entrevistas para o livro.   

Marinho topou e voltou atrás várias vezes a proposta de ser biografado, como o bom ala que era ao enganar os melhores defensores. Encontros marcados e desmarcados, encontros marcados que ele não ia. Luan mergulhou no arcabouço de memórias de gols e vitórias de Marinho para buscar os fatos que ninguém sabia e nem sempre estavam ligadas às taças e títulos que ele conquistou. Polêmico dentro e fora dos campos, Marinho Chagas tornou-se um personagem folclórico de Natal depois que aposentou do mundo da bola. Ele já não discutia mais com rivais dentro de campo, nem tentava escapar da linha dura dos treinadores.   Seu maior adversário era o vício das drogas que o levaram à morte em junho deste ano. E o técnico de quem diariamente se escondia para tentar burlar os tratamentos médicos que precisava e exercer a rotina de excessos era a sua última mulher, Patrícia, que a custo de muito empenho cuidou do craque e dedicou sua vida a ele.  

A biografia do camisa 6 do Brasil na Copa do Mundo de 1974  vem a público desmistificar a figura emblemática do craque de futebol Marinho Chagas, para conta como era o Francisco das Chagas Marinho de carne e osso. Um homem que saiu de uma infância pobre na periferia nordestina para ganhar os mais altos salários do país e passar a frequentar o mais alto escalão da nobreza mundial.   Marinho conheceu a princesa Grace Kelly, fez amizades com grandes figuras da cultura nacional, como o cantor Raimundo Fagner. Porém terminou seus dias longe da fantasia criada em torno de sua fama e padeceu vítima de uma vida desregrada que ele mesmo escolheu levar. O livro de Luan Xavier conta exatamente essa trajetória, Marinho Chagas do brio à opacidade do esquecimento.    

“Um personagem fantástico”   
Espetacular e espetaculoso, Marinho Chagas angariou muitos fãs não somente pelo talento que carregava nos pés. As declarações e atitudes polêmicas do jogador lhe rendiam sempre holofotes e fomentavam a imprensa esportiva no tempo em que ele ainda batia a sua bola. Dentre as muitas passagens relatadas por Luan Xavier na biografia, algumas se destacam por explicitarem a personalidade do atleta.   Como certa vez, em 1977, conta o jornalista no livro, quando Marinho ainda vestia a camisa do Fluminense e foi até um bar na zona Sul do Rio de Janeiro tomar umas cervejas com amigos depois de mais um jogo com a camisa tricolor. Era o bar Antônio’s, estabelecimento famoso naquela época que reunia muitos nomes da MPB. “Naquela noite estavam Fagner, Chico Buarque, Tom Jobim e mais alguns anônimos”, afirma Luan.  

O jornalista conta que Marinho se aproximou do trio e pediu para que Chico cantasse uma música. Instigado pelo pedido, o cantor retrucou dizendo que o atenderia, caso o jogador fizesse 200 embaixadinhas. “Marinho então foi até a cozinha do bar e pegou uma laranja”, detalha Xavier. Em seguida, começou a fazer as embaixadinhas, enquanto todos que ali estavam contavam o número de embaixadas. Ele ultrapassou as 200 e quando Chico Buarque o perguntou qual canção gostaria de ouvir, Marinho respondeu que preferia que Fagner assumisse os vocais, afirmando que Chico Buarque cantava muito mal. “Por essas e outras Marinho é um personagem fantástico, porque carregava essa personalidade que lhe era muito peculiar”, acerta o autor.   

Pesquisa aprofundada   Luan Xavier tem 23 e formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto do livro sobre Marinho Chagas foi a monografia do jovem jornalista, que inicialmente tomou forma como e-book. Depois, em parceria com a Editora Tribo, a história da lenda do futebol potiguar tomou as 200 páginas de papel de “A Bruxa e os dois lados de Marinho Chagas”. 

Durante a pesquisa, Xavier entrevistou muita gente que participou ativamente da vida do jogador e procurou documentos em jornais e revistas para compor o material usado na produção. Entre os nomes com quem o jornalista manteve contato estão Fagner, amigo pessoal de Marinho, Milton Neves (que escreve o prefácio do livro), Chico Buarque, Francisco Horta, além de familiares e amigos que acompanharam o atleta na fase final de sua vida.   

Serviço   Lançamento do livro “A Bruxa e as duas vidas de Marinho Chagas” 
Data: 4 de novembro (terça-feira) 
Horário: 19h 
Local: Capitania das Artes 
Preço: R$ 40
novojornal;jor.br

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