Uma marcação implacável em cima de um dos maiores
laterais esquerdos que este Brasil já viu culminou na publicação do livro que
será lançado na próxima terça-feira. A vida de Francisco das Chagas Marinho é
contada por Luan Xavier na biografia "A Bruxa e as duas vidas de Marinho
Chagas". Mas o jornalista precisou fazer as vezes de um bom beque para
segurar homem que levou o Rio Grande do Norte ao mais alto patamar do esporte
nacional e conseguir extrair dele as histórias que ninguém ainda havia
noticiado.
O processo de apuração das informações e produção do livro
transcorreu como uma extensa partida de futebol de dois anos. Marinho já não
desafiava mais adversários mundo afora com seus desaforados dribles, nem
provocava medo nos guarda-redes com o canhão que disparava da perna direita. A
vida nesses últimos tempos era outra. Esquecido num apartamento de classe média
na zona Leste de Natal, um dos maiores craques da Copa de 1974 levava os dias a
sustentar seus vícios e contar nos bares as histórias do passado de pompa como
astro internacional do futebol.
De todo jeito, o mais famoso jogador do
futebol potiguar continuava escorregadio e bom de drible, só que agora do lado
de fora das quatro linhas dos gramados. Pelo menos foi o que demonstrou quando,
por várias vezes, escapou da marcação cerrada de Luan Xavier, quando o
jornalista marcava as entrevistas para o livro.
Marinho topou e voltou
atrás várias vezes a proposta de ser biografado, como o bom ala que era ao
enganar os melhores defensores. Encontros marcados e desmarcados, encontros
marcados que ele não ia. Luan mergulhou no arcabouço de memórias de gols e
vitórias de Marinho para buscar os fatos que ninguém sabia e nem sempre estavam
ligadas às taças e títulos que ele conquistou. Polêmico dentro e fora dos
campos, Marinho Chagas tornou-se um personagem folclórico de Natal depois que
aposentou do mundo da bola. Ele já não discutia mais com rivais dentro de
campo, nem tentava escapar da linha dura dos treinadores. Seu maior
adversário era o vício das drogas que o levaram à morte em junho deste ano. E o
técnico de quem diariamente se escondia para tentar burlar os tratamentos médicos
que precisava e exercer a rotina de excessos era a sua última mulher, Patrícia,
que a custo de muito empenho cuidou do craque e dedicou sua vida a ele.
A biografia do camisa 6 do Brasil na Copa do Mundo de 1974 vem a público
desmistificar a figura emblemática do craque de futebol Marinho Chagas, para
conta como era o Francisco das Chagas Marinho de carne e osso. Um homem que
saiu de uma infância pobre na periferia nordestina para ganhar os mais altos
salários do país e passar a frequentar o mais alto escalão da nobreza mundial.
Marinho conheceu a princesa Grace Kelly, fez amizades com grandes
figuras da cultura nacional, como o cantor Raimundo Fagner. Porém terminou seus
dias longe da fantasia criada em torno de sua fama e padeceu vítima de uma vida
desregrada que ele mesmo escolheu levar. O livro de Luan Xavier conta
exatamente essa trajetória, Marinho Chagas do brio à opacidade do esquecimento.
“Um personagem fantástico”
Espetacular e espetaculoso,
Marinho Chagas angariou muitos fãs não somente pelo talento que carregava nos
pés. As declarações e atitudes polêmicas do jogador lhe rendiam sempre
holofotes e fomentavam a imprensa esportiva no tempo em que ele ainda batia a
sua bola. Dentre as muitas passagens relatadas por Luan Xavier na biografia, algumas
se destacam por explicitarem a personalidade do atleta. Como certa vez,
em 1977, conta o jornalista no livro, quando Marinho ainda vestia a camisa do
Fluminense e foi até um bar na zona Sul do Rio de Janeiro tomar umas cervejas
com amigos depois de mais um jogo com a camisa tricolor. Era o bar Antônio’s,
estabelecimento famoso naquela época que reunia muitos nomes da MPB. “Naquela
noite estavam Fagner, Chico Buarque, Tom Jobim e mais alguns anônimos”, afirma
Luan.
O jornalista conta que Marinho se aproximou do trio e pediu para
que Chico cantasse uma música. Instigado pelo pedido, o cantor retrucou dizendo
que o atenderia, caso o jogador fizesse 200 embaixadinhas. “Marinho então foi
até a cozinha do bar e pegou uma laranja”, detalha Xavier. Em seguida, começou
a fazer as embaixadinhas, enquanto todos que ali estavam contavam o número de
embaixadas. Ele ultrapassou as 200 e quando Chico Buarque o perguntou qual
canção gostaria de ouvir, Marinho respondeu que preferia que Fagner assumisse
os vocais, afirmando que Chico Buarque cantava muito mal. “Por essas e outras
Marinho é um personagem fantástico, porque carregava essa personalidade que lhe
era muito peculiar”, acerta o autor.
Pesquisa aprofundada Luan
Xavier tem 23 e formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN). O projeto do livro sobre Marinho Chagas foi a monografia do
jovem jornalista, que inicialmente tomou forma como e-book. Depois, em parceria
com a Editora Tribo, a história da lenda do futebol potiguar tomou as 200
páginas de papel de “A Bruxa e os dois lados de Marinho Chagas”.
Durante a
pesquisa, Xavier entrevistou muita gente que participou ativamente da vida do
jogador e procurou documentos em jornais e revistas para compor o material
usado na produção. Entre os nomes com quem o jornalista manteve contato estão
Fagner, amigo pessoal de Marinho, Milton Neves (que escreve o prefácio do
livro), Chico Buarque, Francisco Horta, além de familiares e amigos que
acompanharam o atleta na fase final de sua vida.
Serviço
Lançamento do livro “A Bruxa e as duas vidas de Marinho Chagas”
Data: 4 de
novembro (terça-feira)
Horário: 19h
Local: Capitania das Artes
Preço: R$ 40
novojornal;jor.br
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