Dos 1.057 parlamentares eleitos para as 26 Assembleias
Legislativas e para a Câmara Distrital, 459 não são deputados reeleitos - taxa
de 43% de renovação. Esse índice, porém, mascara outro dado, obtido por um
levantamento feito pelo Estado:
apenas 153 (15%) desses novatos nunca exerceram nenhum mandato eletivo e realmente
estrearam nas urnas em 2014, um ano após os protestos que, entre outras
bandeiras, pregaram a renovação política.
As Assembleias e a Câmara Distrital costumam ser o passo
imediato para quem quer chegar ao Congresso. Dos próximos 513 deputados
federais, pelo menos 26 exerceram mandato em seus Estados na última legislatura
e, em 2015, vão mudar para gabinetes em Brasília. São raros os estreantes nas
urnas que começam a carreira política diretamente no Congresso - geralmente,
são pessoas que contam com alguma notoriedade anterior à política, como
artistas e ex-esportistas.
O fato de um parlamentar ter sido eleito pela primeira
vez não significa necessariamente que ele nunca esteve próximo do poder. Ao
contrário, muitos deputados estaduais conseguiram a primeira vitória nas urnas
embalados pelo sobrenome conhecido do eleitor ou por apadrinhamento. Outra
receita adotada por novatos que conquistaram um mandato pela primeira vez é o
respaldo de igrejas ou de corporações.
O PSDB foi o partido que mais elegeu caras novas pelo
Brasil: são 14 no total. PMDB e PSB vêm na sequência da lista, com 12 nomes
cada.A Região Norte foi a que mais renovou seu quadro de
parlamentares no País em 2014. Dos 185 deputados eleitos nos sete Estados, 41
são inexperientes na função. No Acre, os eleitores renovaram 75% (18) das
cadeiras - dez deles são novatos.
Na ponta contrária, o Sul e o Centro-Oeste foram mais
conservadores neste ano e elegeram menos de 10% de nomes sem experiência
legislativa.
Em Mato Grosso do Sul, todos os deputados eleitos têm
experiência na vida pública. No vizinho Mato Grosso, uma das estreantes é
Janaina Riva (PSD), filha do ex-presidente da Assembleia José Riva, que tentou
disputar o governo estadual, mas foi barrado na Lei da Ficha Limpa - ele
responde a mais de 100 processos judiciais e possui duas condenações no
Tribunal de Justiça do Estado. Janaina foi uma das 19 mulheres eleitas sem
experiência na política - elas representam 15,28% do total. “Em Mato Grosso,
que é um Estado extremamente machista, ser eleita sendo mulher já representa
uma grande evolução”, disse.
Questionada se o fato de ser herdeira política enfraquece
o aspecto de renovação de sua eleição, Janaina respondeu: “Há um prejulgamento,
esperam que eu seja como meu pai. Apesar de admirá-lo, venho com objetivos
novos, fôlego novo”.
Menos mudança. O Legislativo paulista teve a menor
renovação desde 1950. Dos 94 deputados estaduais que vão assumir em 2015, 62
(66%) foram reeleitos. Entre os 11 novatos em mandatos eletivos, quatro são
pastores de igrejas evangélicas, dois são produtores rurais e um é representante
da Polícia Civil.
O delegado Olim (PP) foi o quinto mais votado no Estado e
ajudou a dobrar a “bancada da bala” - eram dois eleitos em 2010 e agora são
quatro. “Quero lutar pela redução da maioridade penal. Não quero ser mais um
poste na Assembleia e vou me esforçar por isso”, disse. A legislação penal, no
entanto, só pode ser alterada no Congresso. “Tenho projetos, mas não gostaria
de falar por enquanto. Preciso aprender como a Assembleia funciona antes.”
No Nordeste, a renovação ocorre em família. Em Alagoas,
todos os seis novatos são filhos de parlamentares. No Maranhão, a família
Sarney saiu enfraquecida, mas deixou um novo representante. Aos 34 anos, o
economista e empresário Adriano Sarney (PV) é o primeiro neto do senador José
Sarney (AP) a ingressar na política. Ele é primogênito do deputado federal
Sarney Filho (PV). O avô e a tia - a governadora Roseana Sarney (PMDB) - se
aposentam em 2015.
A campanha de Adriano abordou questões ambientais e da
juventude sob o refrão de jingle “Ele é diferente”. Ao mesmo tempo, exibiu um
depoimento do avô pedindo votos ao neto. “Tenho uma relação madura com o poder
por ter convivido a minha vida toda. O poder e a política têm ônus
pesadíssimos.”
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