Na edição de 18 de maio de 2005, VEJA publicou uma
reportagem exclusiva sobre um funcionário dos Correios filmado quando embolsava
uma propina de 3 000 reais. Era puxado ali o fio da meada do mensalão, o
primeiro dos dois esquemas de compra de apoio político engendrados no governo
do PT. Nos doze meses seguintes, o Congresso esquadrinhou cada peça dessa
engrenagem criminosa abastecida com recursos desviados dos cofres públicos.
Os
resultados produzidos representaram um ponto fora da curva na tradição de impunidade
que beneficia os poderosos. Com base em provas colhidas pela CPI dos Correios,
três deputados tiveram o mandato cassado, quarenta pessoas foram denunciadas
pelo Ministério Público e 24 condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A
antiga cúpula petista foi sentenciada à prisão. Antes cotado para a sucessão de
Lula na Presidência, José Dirceu passou quase um ano atrás das grades numa
penitenciária em Brasília. Banqueiros e empresários ainda estão encarcerados.
Os criminosos de punho de renda foram finalmente apresentados ao castigo - não
sem antes ouvir uma reprimenda moral histórica. "São eles, corruptores e
corruptos, os profanadores da República, os subversivos da ordem institucional,
são delinquentes e marginais da ética do poder", disse o decano do STF, o
ministro Celso de Mello.
Hoje, o mensalão ocupa um papel secundário no panteão dos
escândalos nacionais. Foi superado, em cifras e ousadia, pelo petrolão, mas
alguns de seus pontos ainda precisam ser elucidados. O mais intrigante deles é
como o ex-presidente Lula se livrou da responsabilidade no caso, se era, em
última instância, o principal beneficiário dos votos comprados no plenário da
Câmara. VEJA desta semana desvenda como Lula escapou do risco de ser apontado
como o chefe do mensalão e de responder a um processo de impeachment durante a
CPI dos Correios. O sucesso da blindagem ao ex-presidente não decorreu apenas
da capacidade de negociação de seus articuladores políticos.
O PT negociou o
silêncio do empresário Marcos Valério quando ele - às vésperas da conclusão da
CPI dos Correios - avisou que acusaria Lula de comandar o mensalão se não
recebesse uma ajuda financeira milionária. Um empresário amigo foi convocado
para pagar a fatura e Valério se recolheu. Lula se livrou da CPI, reelegeu-se
em 2006 e foi o efetivo cabo eleitoral de Dilma em 2010. Em 2012, Valério
contou parte de seus segredos ao Ministério Público, tentando um acordo de
delação premiada. Já era tarde. Lula não podia mais ser incluído no processo. O
empresário cumpre uma pena de 37 anos de prisão. Definitivamente, não fez um
bom negócio.
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