Escola outrora marcada pelo improviso e pela criatividade, o futebol brasileiro
está levando um baile de si próprio. Estatísticas do “Footstats” mostram que o
drible não é mais uma marca registrada do país pentacampeão mundial. Até aqui,
o Campeonato Brasileiro registrou um total de 1359 dribles certos até o início
da 25ª rodada, o que representa uma média de 2,8 por jogo. O “Footstats”
considera o fundamento válido quando um jogador transpõe um adversário que está
à sua frente.
Uma comparação com o Campeonato Inglês é mais um lençol
no futebol canarinho. Em quatro rodadas completas disputadas, o West Bromwich
Albion é o time menos driblador da competição, com média de 6,5 dribles certos
por jogo. Aqui, o Flamengo é a equipe mais “ousada” até o momento, mas tem
números bem inferiores aos dos ingleses: média de só 4,2 dribles por jogo. O
Fluminense, por sua vez, é o lanterna da lista, com 1,8 drible por partida.
— Tem muita gente no meio do futebol que não gosta de
jogadores dribladores. Como é que pode isso? O drible é uma arma para quem é
inteligente. Eu, Pelé, Rivelino e Garrincha não jogaríamos no futebol atual —
disse o tri mundial Jairzinho.
No Brasileiro de 2015, o líder do ranking dos dribles é o
gremista Luan. Apesar de estar no topo da tabela, os números não impressionam:
apenas 19 certos em 20 partidas disputadas com a camisa tricolor. Abaixo dele,
o são-paulino Alexandre Pato e o rubro-negro Emerson Sheik são os mais
“ensaboados” do Brasil.
A prevalência da parte tática sobre a fantasia foi
lembrada pelo ex-atacante rubro-negro Sávio, um dos grandes dribladores de sua
geração. Mas o ex-ponta Mauricinho, importante nome do Vasco dos anos 80,
adicionou um pouco mais de pimenta na discussão. Sem fazer finta, ele crê que,
em muitos casos, o responsável pelo fim do brilho do futebol brasileiro está no
banco de reservas:
— Tem sempre aquele treinador que só quer segurar o
emprego. Isso impede a criatividade do atacante. Nem na Seleção a gente vê dribles.
É só o Neymar e mais ninguém. Acabou o espetáculo.
Na Copa do Mundo de 2014, o time dirigido por Luiz Felipe
Scolari teve o terceiro melhor índice nesse quesito, atrás de Argentina e
Holanda. Na lista individual, Neymar foi o melhor: quinto colocado. O líder foi
o holandês Arjen Robben. Lionel Messi foi o segundo.
Para Adílio, supercampeão com a camisa do Flamengo, a
correria e a pressão por resultados são as grandes vilãs. Segundo o ex-camisa
8, o ditado “a pressa é inimiga da perfeição” se encaixa perfeitamente nessa
discussão.
— Não existe mais tempo para que os jogadores trabalhem o
design da jogada. Os times querem fazer o gol logo, de qualquer jeito. Às vezes
é necessário segurar um pouco mais a bola, dar aquele driblezinho na lateral do
campo para ver com mais calma a melhor jogada a se fazer. Os jogadores se
desfazem da bola com muita velocidade — apontou Adílio. Em crise de identidade, o nosso futebol tem tomado um
verdadeiro olé da falta de inspiração.
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