A endividada Petrobras, controlada pelo governo federal,
poderá ser uma das maiores beneficiárias de uma eventual aprovação pelo
Congresso Nacional do impeachment da presidente Dilma Rousseff, disseram à
Reuters investidores e analistas ontem. A Câmara dos Deputados aprovou no domingo o pedido de abertura do processo de
impeachment contra a presidente Dilma, tornando seu afastamento da Presidência
praticamente irreversível.
O vice-presidente Michel Temer, substituto de Dilma caso o impeachment seja
aprovado pelo Senado, é considerado mais acessível à indústria em seus pedidos
de alterações de regras do setor, criadas pela presidente e pelo Partido dos
Trabalhadores. As regras foram instituídas na última década para aumentar o controle estatal
sobre as descobertas do pré-sal, mas críticos de Dilma afirmam que as medidas
trouxeram aumento de custos, limitando a produção e ajudando a elevar a dívida
da Petrobras para 126 bilhões de dólares, a maior do mundo para uma empresa do
setor de petróleo.
"Primeiro, a Petrobras deixará de ser usada como uma ferramenta de
política monetária", disse Edwin Gutierrez, chefe de dívida soberana de
mercados emergentes na Aberdeen Asset Management, em Londres. "Ela (Dilma)
congelou os preços da gasolina por anos destruindo os retornos da área de
refino e aumentando a dívida. Esses dias acabaram e não vai acontecer com o
Temer." Muitos dizem também que as políticas de Dilma, instituídas após as
gigantes descobertas em mar, que começaram em 2007, deixaram o setor no Brasil
e a Petrobras com poucas opções e, com a queda dos preços do petróleo no último
ano e meio, o setor sofreu com demissões, corte de investimentos e vendas de
ativos. "Com base no potencial futuro, o governo mudou as regras do jogo e
começou a tentar comer o bolo antes de terminar de assá-lo", disse David
Elms, diretor da Global Energy Research Network da Warwick Business School, na
Inglaterra.
Com o petróleo no mar do Brasil entre os mais caros para explorar e com os
preços baixos no cenário global, qualquer novo governo terá que fazer mudanças
importantes no setor ou poderá correr riscos de perder investimentos para
outros países, acrescentou.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), uma dos maiores opositoras do
impeachment de Dilma, está convencidos de que Temer (PMDB), que até semanas
atrás era um aliado de Dilma, vai aliar-se com o PSDB. Isto, disse Deyvid
Bacelar, filiado à FUP e representante dos trabalhadores no Conselho de
Administração da Petrobras, poderá terminar com políticas rígidas de conteúdo
nacional, trazer mais demissões e acabar com a obrigatoriedade de a Petrobras
ter um percentual mínimo nas principais áreas de petróleo em mar.
Bacelar também teme uma onda de vendas de ativos da Petrobras para
estrangeiros. O PMDB e PSDB estão em acordo sobre a necessidade de reduzir a
presença da Petrobras em todos os novos desenvolvimentos em mar, uma tarefa que
a empresa disse que não pode pagar, e abrir o país para mais investimento
estrangeiro, disse Adriano Pires, um consultor de longa data do PSDB e diretor
do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Ainda assim, a Petrobras deverá continuar um símbolo de orgulho nacional,
limitando o potencial de mudanças reais, destacou John Baur, gerente global de
portfólio de rendimentos que administra parte dos 306 bilhões de dólares de
ativos da Eaton Vance Investment Managers, em Boston. Outros ficarão satisfeitos se o governo, seja ele qual for, evitar
interferências políticas na Petrobras que no passado contribuíram com a
corrupção, trazendo baixas contábeis enormes, redução dos preços das ações e
perdas de oportunidades.
"A experiência de gestão puramente política se mostrou bem ineficiente. Imagino
que, seja lá quem esteja no governo, eles vão olhar a Petrobras de forma muito
mais cuidadosa do que foi olhada até bem pouco tempo atrás", afirmou o
consultor de óleo e gás da Fundação Getúlio Vargas e ex-diretor da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Nelson Narciso.
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