Um dos nomes mais fortes para a sucessão do presidente
Michel Temer, segundo pesquisas de opinião, a ex-ministra Marina Silva (Rede)
diz que o governo do peemedebista não conseguiu superar a crise nascida na
gestão Dilma Rousseff. As soluções seriam uma alteração na lei para a realização
de novas eleições diretas ou a renúncia de Temer. “Poderá fazê-lo. Mas isso
depende de cada um. É dele”, disse Marina, ao Estado. Apesar disso, a
ex-ministra defende a política econômica do governo e a Lava Jato que, para
ela, tem feito uma reforma política na prática.
Com o fraco resultado nas
eleições municipais, a Rede é uma plataforma viável para sustentar um projeto
eleitoral nacional?
Para mim seria um partido mais do que adequado até porque
neste momento de profundo descrédito na política a Rede vem sendo esta
tentativa de tentar atualizar a política. Neste momento de política de terra
arrasada em que há uma desconstrução quase que completa das velhas estruturas,
é o momento de fazer uma espécie de garimpo de aluvião para ver o que é que
sobra de cada partido e em todos os setores da sociedade para pensar um projeto
de país.
Como a Lava Jato influencia na renovação da
política?
A Lava Jato criou um novo marco legal. Se conseguirmos
institucionalizar estas conquistas em relação à magistratura e à Justiça
estaremos fazendo uma reforma política na prática porque a Lava Jato mostra
como fazer para que aqueles que só têm interesse em negócios escusos percam o
interesse pela política.
Existe risco à continuidade
das investigações?
Em uma entrevista coletiva eu disse que o impeachment
poderia fazer com que todos se juntassem para tentar debelar a Lava Jato. Hoje,
na prática, isso está acontecendo. Ficou muito claro no episódio da votação das
10 medidas contra a corrupção no Congresso. Hoje, partes significativas do PT,
do PSDB e do PMDB estão juntos na mesma operação de tentar arrefecer a Lava
Jato.
A senhora vê alguma atuação
direta do governo Temer neste movimento?
Vejo que quando a base do governo se mobiliza para
deturpar as 10 medidas é no mínimo conivente. Quantos investigados continuam no
governo. Saiu um ministro (senador Romero Jucá, Planejamento) que surgiu em uma
das delações e foi ser líder do governo no Senado. Isso vai na contramão
daquilo que a boca fala.
A senhora convidaria o juiz Sérgio Moro ou o ex-ministro
do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa para integrar a Rede?
Moro está fazendo e o ministro Barbosa fez um trabalho
tão relevante que qualquer envolvimento deles futuramente com a política será
um ato deles, no tempo deles, se assim desejarem. Acho que até pela necessidade
de que este trabalho não seja confundido com ação política ninguém que deseja
ver prosperar a Lava Jato fará qualquer movimento nesta direção. É o momento de
não criar nenhuma armadilha.
O Brasil vive uma crise
institucional?
O que está sustentando o Brasil, graças a Deus, é o povo
brasileiro e as instituições. No entanto estamos no limiar desta crise. Nunca
estivemos numa situação tão tênue como estamos agora. O episódio do presidente
do Senado (Renan Calheiros) se recusando a cumprir uma decisão da mais alta
Corte do País foi algo muito difícil. Não consigo imaginar nos EUA alguém se
recusando a cumprir uma ordem da Suprema Corte. Não consigo ver a Suprema Corte
da Inglaterra reformando uma representação institucional para se adaptar a uma
pessoa.
Como a senhora avalia estes
sete meses de governo Temer?
O governo ainda não foi capaz de se estabelecer. Vive
praticamente o mesmo vendaval de crises que vivia a presidente Dilma. A única
diferença é que no governo Dilma havia uma equipe econômica que dirigia em alta
velocidade rumo ao precipício e agora tem uma equipe econômica que, com
competência, tenta desviar do precipício. No entanto, a crise política pode
acabar prejudicando a economia.
Por quê?
Estamos vivendo uma situação esdrúxula. Geralmente a
instituição Presidência da República, com credibilidade e legitimidade, serve
de superfície para que os diversos setores do governo trabalhem. O que está
acontecendo é que um dos setores, no caso a economia, é que dá sustentação ao
governo. A cada terremoto, como a delação da Odebrecht, o governo usa a equipe
econômica para se salvar. Os vendavais não vão acabar, ainda podem levar o
descrédito para a economia e vamos voltar à velha era dos pacotes quando a cada
semana era lançado um pacote.
Como a Rede deve se
posicionar em uma eventual eleição indireta para presidente?
A legislação eleitoral aprovada bem antes desta crise (e
travada no Congresso) estabelece que na vacância do cargo haverá nova eleição a
menos que seja a seis meses do pleito. Há que se fazer um esforço para criar
mecanismos que façam esta adequação. O pior dos mundos é uma eleição indireta com
este Congresso que aí está. O que o Brasil precisa neste momento é devolver
para a sociedade a legitimidade para repactuar as medidas de transição na saída
desta crise.
Existe outro caminho?
Eu já dizia antes que a renúncia é sempre um ato pessoal,
unilateral. A presidente Dilma poderia ter feito este gesto. Não fez. O
presidente Temer, no meu entendimento, se encontra na mesma situação que ela.
Poderá fazê-lo. Mas isso depende de cada um. É dele. Faltam 16 dias.
Qual a opinião da senhora
sobre a PEC do Teto e a reforma da Previdência?
Em 2010, quando fui candidata pela primeira vez, propus
que o aumento do gasto público seria o crescimento do PIB considerando a
correção da inflação. É uma diferença básica desta proposta do governo. No caso
da Previdência não há dúvida que devemos resolver este grave problema. Mas
corrigiria arbitrariedades. Uma pessoa ter que levar quase 50 anos de
contribuição contínua para fazer jus à aposentadoria integral é uma
arbitrariedade. Uma outra coisa é porque apenas alguns setores vão passar pelo
sacrifício? Porque não temos o princípio da equidade incluindo militares,
Judiciário e Legislativo? Eu votaria, se fosse ainda senadora, pela
admissibilidade das duas medidas corrigindo as arbitrariedades.
estadao
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