Em seu acordo de delação premiada, o ex-líder do governo
Delcídio do Amaral também apontou o atual presidente do PSDB, Aécio Neves, como
destinatário de propina em um esquema de corrupção na hidrelétrica de Furnas.
Delcídio não citou valores que teriam sido repassados ao senador tucano, mas
disse que o então diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo, que ocupava o
cargo apoiado pelo PP e por Aécio, tinha um "vínculo muito forte" com
o senador do PSDB.
Às autoridades responsáveis pela Operação Lava Jato,
Delcídio revelou que "Dimas operacionalizava pagamentos e um dos
beneficiários dos valores ilícitos sem dúvida foi Aécio Neves, assim como
também o PP, através de José Janene". "O próprio PT recebeu valores,
mas não sabe ao certo quem os recebia e de que forma", disse o delator.
Em uma viagem em maio de 2005, o senador Delcídio, que
hoje anunciou sua desfiliação do PT, relatou que o então presidente Lula quis
saber quem era Toledo e então disse: "Eu assumi e o Janene veio pedir pelo
Dimas. Depois veio o Aécio e pediu por ele. Agora o PT, que era contra, está a
favor". Na sequência, Lula concluiu: "Pelo jeito ele está roubando
muito". José Dirceu teria sido o petista a interceder pela permanência de
Toledo. Além de Janene e Aécio, Eduardo Cunha é incluído por Delcídio entre os
políticos que tinham ascendência sobre a estatal.
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Segundo Delcídio, a conclusão de que Dimas Toledo estaria
"roubando muito" é porque "seria necessário muito dinheiro para
manter três grandes frentes de pagamentos e três partidos importantes". A
influência do dirigente era tamanha que, também conforme depoimento de
Delcídio, José Dirceu afirmou que mesmo se Toledo fosse nomeado
"ascensorista de Furnas, mandaria no presidente de Furnas". "Não
há dúvidas que Furnas foi usada sistematicamente para repassar valores para
partidos", resumiu o delator, que comparou o esquema ao petrolão: "o
que se vê hoje na Petrobras ocorreu sem dúvidas em Furnas".
Embora desconheça os operadores do suposto esquema de
corrupção em Furnas, Delcídio enumera as empreiteiras Odebrecht, Andrade
Gutierrez, Camargo Correa e OAS, protagonistas do petrolão, como pagadoras de
propina em Furnas. De acordo com o senador, o esquema funcionava de maneira
"azeitada" e era difícil perceber os repasses ilegais porque Dimas
"era muito competente".
CPI dos Correios - Delcídio também citou Aécio
Neves em outro episódio, a CPMI dos Correios. Ele afirmou que o Banco Rural,
envolvido no escândalo do mensalão, maquiou relatórios fiscais para não
incriminar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e Clésio Andrade, ex-senador pelo
PMDB mineiro e réu no escândalo do valerioduto tucano.
Delcídio era presidente da CPMI. Ele contou que pediu a
quebra de sigilo bancário do Rural, mas que a instituição solicitou um prazo
maior para atender ao requerimento. O senador disse que autorizou adiar a
entrega dos dados sigilosos, mas que na verdade o banco tentava excluir dados
para encobrir irregularidades relacionadas ao governo de Minas Gerais.
Segundo o acordo de delação premiada, "Delcídio
esclarece, que, na verdade, a solicitação de dilação de prazo feita pelo Banco
Rural se deu com o escopo de 'ganhar tempo' para 'maquiar' os demonstrativos
internos do Banco Rural para, assim, evitar que o 'mensalão', que é mineiro de
nascença, atingisse o governo de Minas Gerais (Aécio Neves e Clésio
Andrade)".
Ele se dispôs a apontar aos investigadores da Operação
Lava Jato "os nomes dos diretores do Banco Rural que fizeram tai
ilicitude" por meio do levantamento de ofícios enviados e recebidos pela
CPMI dos Correios.
Outro lado - Por meio de sua assessoria de
imprensa, o senador Aécio Neves respondeu à delação de Delcídio do Amaral. O
tucano afirma que "são citações mentirosas que não se sustentam na
realidade e se referem apenas a 'ouvir dizer' de terceiros".
Sobre a suposta participação de Aécio em um esquema de
corrupção em Furnas, o senador se defende dizendo que "é curioso observar
a contradição na fala do delator já que ao mesmo tempo em que ele diz que a
lista de Furnas é falsa, ele afirma que houve recursos destinados a
políticos".
A respeito da menção do presidente do PSDB no caso da CPI
dos Correios, Aécio afirma que "jamais tratou com o delator Delcídio de
nenhum assunto referente à CPMI dos Correios. Também jamais pediu a ninguém que
o fizesse".