As imagens provocam um frio na espinha. O jovem sem
camisa, muitas vezes sem capacete ou qualquer equipamento de segurança, se
ajeita do alto de uma edificação pública ou de um penhasco, sorri para a
câmera, respira fundo e se atira em queda livre. Ao fundo, ouvem-se aplausos,
gritos e alguns palavrões de apoio. Em seguida, as imagens do salto ganham as
redes sociais, dezenas, centenas de “likes” e mensagens de apoio, tendo a
palavra “adrenalina” como personagem principal.
Esse tipo de cena poderia ter sido gravada em Pipeline
Bungy, na Nova Zelândia, ou em Royal Gorge Suspension Bridge, nos Estados
Unidos, onde saltos semelhantes são assistidos por empresas de segurança
especializadas e com equipamentos de primeira linha. Mas elas ocorrem no Plano
Piloto, em monumentos como a Ponte JK, a Ponte Costa e Silva e o Estádio
Nacional Mané Garrincha. Cachoeiras nas imediações do Distrito Federal também
servem como point de risco para performances improvisadas e até transmitidas ao
vivo pela internet. A prática de esportes radicais em locais públicos, como
pontes, além de ser proibida, é uma contravenção penal. E só pode ocorrer com
permissão da autoridade legal.
Instagram e YouTube são as plataformas preferidas de
jovens brasilienses. Nesses espaços virtuais, encontram-se com facilidade
diversos vídeos e fotos de garotos e garotas que se exibem em práticas radicais
como o rope jump e a queda livre. Sem serem incomodados, e quase sempre sem
autorização do poder público, eles se atiram no ar sob o incentivo de quem
estiver ao redor. Em uma das gravações obtidas pelo Correio, uma menina é
carregada e jogada por três rapazes no vão da Ponte JK, presa apenas por uma
corda “especial”, em uma aparente imprudência com a própria vida. As imagens
são feitas à noite ou de madrugada.
Um dos aventureiros mais ativos desses canais tem 24 anos
e se apresenta como estudante de engenharia de produção em uma universidade do
DF e cofundador de um grupo conhecido como Caçadores de adrenalina. O jovem
reúne no Instagram quase 2,5 mil seguidores (leia Memória), que, com
frequência, têm acesso a vídeos com saltos mortais e com poucos equipamentos de
segurança. Um dos cenários inusitados é o teto do Mané Garrincha. Do alto da
arena, o rapaz usa a lona como uma espécie de cama elástica. As manobras são
realizadas sem corda ou capacete — pelas imagens, ao amanhecer. Ele e alguns
amigos ainda aparecem sentados no limite do estádio de 46m de altura, com as
pernas voltadas para a parte externa, sem nenhum equipamento capaz de evitar
uma tragédia. Adrenalina a qualquer preço é o que eles buscam. O valor à vida
fica em segundo plano.
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