Mulheres usam máscara no Centro de Niterói | Fabiano Rocha
Neste tempo de pandemia da Covid-19 é muito importante discutir o uso das máscaras. Tudo em relação a virologia depende da quantidade de vírus presente no corpo da pessoa infectada. É a chamada carga de viral.
Para infectar o ser humano precisamos de um número de partículas virais definida ou dose infectante. Por exemplo, se tratarmos um paciente com Aids e baixamos sua carga viral no sangue, este paciente não é mais infeccioso. O mesmo quando utilizamos a camisinha.
Quando vamos para os vírus respiratórios, as coisas são semelhantes. Um paciente infectado por vírus respiratórios, como a influenza ou coronavírus, libera milhões de partículas de vírus em suas gotículas exaladas pela tosse ou espirros. Estas gotículas vão se depositar no rosto ou mãos de pessoas não-infectadas e podem agora infectá-las diretamente.
Outra via de infecção se dá pela deposição das gotículas em superfícies como mesas, banheiros, barras de ônibus, corrimões, elevadores, etc, e aí contaminam as mãos das pessoas não-infectadas que levam o vírus a boca ou olhos.
O uso da máscara por uma pessoa infectada seja sintomática ou assintomática diminui a dispersão das gotículas e por consequência a carga de vírus ambiental. Temos as máscaras de materiais sintéticos ou papel tratados que são utilizadas pelo pessoal de saúde e são essenciais nesses tempos de coronavírus. Essas máscaras industriais tipo N95 e as PPF2/3 têm um alto poder de filtração das tais gotículas suspensas, tanto para expelirmos quanto para inspirarmos os vírus.
A população não deve utilizar estas máscaras para poupá-las para os médicos, enfermeiros, e outros profissionais lidando diretamente com os pacientes internados com Covid-19. Porem, o resto da população deve se beneficiar também deste equipamento utilizando máscaras caseiras feitas de pano.
Vamos utilizar as máscaras de pano comerciais ou caseiras o tempo todo porque, mesmo que uma máscara de pano, dobrado 2 a 3 vezes, não barre 100% a carga de vírus exalada ou inalada no meio ambiente, ela pode barrar algo entre 60% e 70% . Assim, a carga de vírus depositada em superfícies diminui e consequentemente a transmissão do vírus também cai.
Este benefício se dá de duas formas: quem está infectado só deixa e só exala 30% da carga de vírus e os não infectados só recebem 30% dos 30% exalados, ou seja, 9% da dose infectante. Isto é uma queda formidável na dose infectante e, além desse benefício, a máscara caseira protege o nariz e boca contra uma autoinoculação. Assim o uso em larga escala da máscara baixaria drasticamente a carga de vírus circulante na comunidade.
Temos que lembrar que uma vacina muito eficaz imuniza 90% dos indivíduos e pode nos livrar de epidemias de sarampo, poliomielite etc. Em analogia, o uso em larga escala da máscara caseira, em casa ou na rua, seria como uma vacina contra o coronavírus. Porém, é uma vacina que deve ser utilizada todos os dias.
Mas, importante: o uso da máscara de pano não pode substituir o isolamento social, a higienização das mãos, e o cuidado de não levar as mãos ao rosto. Ela é uma medida de prevenção aditiva. Precisamos também perder esse estigma da máscara relacionando seu uso a doenças.
Acho que a população asiática lida bem com isso e vemos grande parte da população utilizando máscaras. Vamos todos usar máscara em casa e na rua. Os sintomáticos e os assintomáticos. A proteção dada pelas máscaras não é somente individual, mas, sim, comunitária.
Respeitem a si, respeitem ao próximo, mantenham isolamento social e usem máscaras o tempo inteiro. Todos devem ter, no mínimo, duas máscaras, uma para usar e outra de reserva limpa.
Lave-as com água, sabão e um pouco de água sanitária. Resumindo, a máscara, mesmo de pano, é uma vacina para vírus respiratórios. Porém, é uma vacina que temos que usar o tempo todo! E, reforçando: ela não substitui o isolamento social.
*Amilcar Tanuri é virologista chefe do Laboratório de Virologia Molecular do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
A Hora da Ciência – O Globo