Aos 39 anos, casado, com dois filhos, Flávio contou que realizou concursos públicos para conseguir sustentar a família. E a escolha pela profissão de gari foi diretamente ligada ao desejo que tinha de estudar.
“Fiquei na suplência de assistente administrativo do Detran, passei na Guarda Municipal de Tangará e passei pra gari de Tibau do Sul. Foi onde eu assumi, por ficar sabendo que tinha dois ônibus escolares que vinham para Natal. E o que eu precisava era isso, era o ônibus para vir para a universidade”, conta.
Flávio acordava todos os dias às 5h. Às 6h, já estava varrendo as ruas de Tibau do Sul. Durante o trabalho, o sonho de se tornar advogado não saia da cabeça.
O primeiro desafio foi entrar no curso de Direito. Ele fez uma prova, foi aprovado e conseguiu matrícula em uma universidade particular em Natal.
Ele pagava o curso com parte do salário e contava com a ajuda da mãe. Depois de seis horas de trabalho, debaixo do sol ou de chuva, precisava viajar todos os dias por quase duas horas em um ônibus escolar e lutar contra o cansaço durante as aulas. No geral, Flávio só dormia três horas por dia.
“O primeiro dia foi um teste, porque eu assisti as primeiras aulas e quando deu o intervalo, não estava entendendo nada, e bateu o desespero. Foi quando eu juntei próximo a uns colega e eles disseram a mesma coisa, que não estavam entendendo. Então eu me senti tranquilo, mas procurando uma estratégia de como aprender. Teve um colega que sugeriu fazer um grupo de estudo. Ai eu aceitei na hora”, conta.
Flávio falou com o chefe e pediu para começar a trabalhar mais cedo, para poder sair antes do horário convencional. O objetivo era viajar para Natal mais cedo para ir à biblioteca da universidade estudar junto com os colegas.
Mesmo diante de todas as dificuldades, uma palavra nunca chegou a ser cogitada. “É essa palavra não existe no meu dicionário: desistir”, diz.
Flávio conta que se deu conta que tinha realizado o sonho ao ser aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil.
“Quando eu vi o resultado, que eu tinha sido aprovado no exame da ordem, eu chorei por quarenta minutos. Eu lembrei de todo sacrifício que passei”, relatou.
Flávio passou na primeira prova da OAB. Agora ele já pode advogar. Por enquanto, segue como servidor de Tibau do Sul. Ele está de férias e pretende tirar uma licença para começar a advogar em um escritório.
Com a carteira da OAB na mão, o gari que se tornou advogado continua de olho no futuro. E deixa um recado. “Se você tem seu sonho, não desista dele. Você pode estar em qualquer profissão, mas corra atrás. A gente tem que procurar solução mas nunca desistir”, conclui.