Há 10 anos, o cenário do futebol brasileiro perdia o lateral-esquerdo Marinho Chagas. Nascido em Natal, Rio Grande do Norte, em 1952, o jogador conhecido como “Bruxa” faleceu no dia 1º de junho de 2014. Com o jeito de jogar irreverente, deixou o legado nos gramados ao mudar o mundo do futebol.
Sua trajetória brilhante teve início nos campos de terra batida no Alecrim, em Natal. Teve sua primeira oportunidade no Riachuelo Atlético Clube, mas logo seu talento singular chamou a atenção e ingressou no ABC, em 1969. Passadas mais duas temporadas, foi a vez do Náutico-PE. Sair do futebol potiguar e jogar por clube grande pernambucano era sonho. Não há videotape, para comprovar a história, mas quem teve a honra de testemunhar, em 1972, na primeira oportunidade que teve de enfrentar o Santos, Marinho aplicou um chapéu em Pelé, que teria pedido respeito à Bruxa. Depois disso, a próxima parada foi no Botafogo, onde não demorou muito para se tornar um dos maiores ídolos da torcida alvinegra carioca, o que abriu as portas da Seleção Brasileira para o astro potiguar que se tornou o melhor lateral esquerda da Copa de 1974, na Alemanha. Apesar de sempre muito badalado, ele não teve a oportunidade de disputar mais nenhum Mundial. Em 1978 foi preterido pelo treinador Cláudio Coutinho e não foi para a Argentina. O treinador preferiu improvisar o quarto zagueiro Edinho, do Fluminense, e levar na reserva o rubro-negro Rodrigues Neto, do Flamengo, que acabou ganhando a posição.
A Bruxa jogou pela Seleção Brasileira em 36 partidas (24 vitórias, 9 empates, 3 derrotas) e marcou quatro gols.
O jeito de jogar de Marinho Chagas mudou o mundo do futebol. A Bruxa era um lateral-esquerdo diferente do costume da época. A precisão nos passes e capacidade de criar jogadas ofensivas a partir da defesa o destacaram dentro de campo, além da forma avançada como jogava, se caracterizando como um ala.
As maiores glórias de Marinho no futebol foram: campeão potiguar-1970, pelo ABC; eleito melhor lateral esquerda do Mundial-1974; segundo maior futebolista sul-americano-1974; campeão do Torneio Bicentenário da Independência dos Estados Unidos-1976, pela Seleção Brasileira; campeão paulista-1981, pelo São Paulo; Bola de Prata, da revista Placar para os melhores do Brasileirão-1972/73/81; – eleito, pela FIFA, segundo melhor lateral esquerdo do século-20, depois de Nilton Santos.
Marinho já atacou de cantor e gravou um clip para o programa “Fantástico”, da TV Globo, cantando a música “Eu sou assim”, que seria o seu auto retrato. Em 1978, participou, também, de um filme cinematográfico, “O Homem de Seis Milhões de Cruzeiros Contra as Panteras”, comédia em que ele é sequestrado às vésperas de um jogo da Seleção Brasileira, para ser trocado por um computador. Libertado, chega ao Maracanã no intervalo da partida, joga o segundo tempo e marca o gol da vitória.
Durante o período de jogador, Marinho Chagas ganhou três vezes a Bola de Prata, o maior troféu da imprensa esportiva concedido pela revista “Placar”, da editora Abril, em 1972, 1973 e 1981.
Porém, foi além-fronteiras que Marinho Chagas se tornou uma lenda global. Seu período no New York Cosmos, nos Estados Unidos, não só elevou o nível do futebol norte-americano, mas também ampliou sua própria influência além das fronteiras brasileiras. Foi lá que seu estilo de jogo único conquistou os torcedores, solidificando sua posição como um dos mais adorados jogadores da época.
Mas o legado de Marinho Chagas não se limita apenas às quatro linhas. Marinho foi homenageado diversas vezes no Rio Grande do Norte e ganhou uma estátua de sete metros elaborada pelo artista plástico Guaraci Gabriel. O monumento está instalado atualmente no pátio de entrada do Frasqueirão.
Em 1º de junho de 2014, Marinho Chagas faleceu após sofrer uma hemorragia digestiva alta, aos 62 anos. O jogador passou mal durante um encontro de colecionadores de figurinhas da Copa do Mundo e foi internado.
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